Organismos geneticamente modificados (OGMs ou transgênicos) se tornaram ingredientes tão comuns em produtos industrializados que é impossível deixar de encontrá-los nas prateleiras dos supermercados, mesmo na maior rede de produtos orgânicos dos Estados Unidos - a Whole Foods Market. Alimentos orgânicos deveriam ser, por definição, livres de transgênicos.
O deslize fez com que a Whole Foods recebesse a visita de ativistas vestidos com macacões de proteção para risco químico. "Ninguém suporia que existem OGMs justo aqui no Whole Foods", disse Alexis Baden-Mayer, diretor político da Associação dos Consumidores Orgânicos, responsável pelo protesto.
Os donos da empresa argumentam que é praticamente inevitável a inclusão de produtos que contenham milho, soja ou outras culturas geneticamente modificadas.
Críticos dos transgênicos afirmam que o governo americano deveria obrigar empresas a incluir um rótulo informativo em produtos feitos com OGMs, sugestão rechaçada pela indústria. "O FDA (órgão americano de vigilância sanitária) tem o conhecimento científico para estabelecer os critérios para a rotulagem de alimentos e para verificar a segurança dos produtos", afirma Ab Basu, vice-presidente para alimentos e agricultura da Organização das Indústrias de Biotecnologia. "Você pode visitar o site do FDA e verificar se um cereal (transgênico) é substancialmente igual ao produzido convencionalmente. Não há razão para rotulá-lo de uma forma diferente", defende.
Livre mercado. "Se as empresas dizem que a engenharia genética não tem problemas, então vamos rotular os produtos e deixar que os consumidores decidam", diz Michael Hansen, cientista do Sindicato dos Consumidores. "É o que todos os defensores do livre mercado dizem. Então vamos deixar o mercado funcionar."
Michael Jacobson, diretor executivo do Centro pela Ciência no Interesse Público, que não se opõe a transgênicos, afirma que muitos empresários consideram a rotulagem de transgênicos um passo muito arriscado. "Nenhuma empresa de alimentos utilizaria OGMs se fossem obrigadas a rotular os produtos, pois não traria nenhum lucro", diz. "O termo transgênico se tornou uma palavra tóxica. Por isso, se uma companhia percebe que pode perder cerca de 2% das suas vendas, por que o adotaria?"
De fato, uma pesquisa de 2006 da Iniciativa Pew para Comida e Biotecnologia mostrou que só 23% das mulheres (as principais tomadoras de decisão na hora de consumir) consideravam os transgênicos seguros.
Por outro lado, a mesma pesquisa mostra que a maior parte dos americanos não sabe o que é um OGM. Só 26% sabiam que, com grande probabilidade, já tinham consumido transgênicos.
(O Estado de S.Paulo, 30/05/2011)