(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
código florestal
2011-05-30 | Tatianaf

Para a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV), a aprovação do Código Florestal, ocorrida nesta semana no Congresso, está relacionada com o aumento da insegurança para ambientalistas que enfrentam madeireiros e fazendeiros na floresta Amazônica. No começo da semana, o extrativista José Claudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, foram assassinados na cidade paraense de Nova Ipixuna. O ativista já havia dito que era alvo de frequentes ameaças após denunciar a exploração ilegal de madeira em reservas.

Veja os principais pontos da proposta do Código Florestal

"Com a aprovação do relatório do deputado Aldo (Rebelo - PCdoB), sequer a lei vai estar a favor dessas pessoas", disse Marina em entrevista ao Terra. O relatório de Rebelo isenta pequenas propriedades, de até 4 módulos fiscais (medida que varia de 20 a 400 hectares), a recuperar a Reserva Legal.

Para Marina, com a aprovação do código ocorrerá uma inversão de valores na preservação da floresta. "Outra coisa é os ilegais serem transformados em legais, e vão agir em defesa do legitimo direito que eles adquiriram de desmatar".

Ela critica a postura do governo quando diz que o Executivo mobiliza sua ampla base em defesa de projetos como o pré-sal e salário mínimo, mas deixa de lado a questão ambiental. "Na questão ambiental, desde a época do presidente Lula, estranhamente, a base se rebela sempre contrária à posição do governo". Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Terra:

Terra - A senhora conhecia o casal assassinado, ou conhecia o trabalho que eles desenvolviam?
Marina Silva - O que eu conhecia é que eles eram lideranças comunitárias em um projeto de assentamento extrativista, que fica a 60 km de Nova Ipixuna. Ele era uma ativista que, inclusive, falou que estava sendo ameaçado de morte. Deixou bem claro que seria a próxima irmã Dorothy (missionária americana morta em 2005 em função do conflito agrário do Pará) na luta em defesa das reservas comunidades.

Terra - As regiões do sul e do sudeste do Pará são conhecidas pelos conflitos entre madeiros, garimpeiros, fazendeiros e índios. A senhora acredita que mudou muita coisa desde as décadas de 80 e 90?
Marina Silva - Infelizmente mudou muito pouco. O que mudou foi que uma parte daquelas terras foram destinadas para a criação de reservas extrativistas. Em 95, 96, quando eu cheguei ao Senado, era impossível pensar que aquelas terras poderiam ser demarcadas...

A pressão continua sobre as reservas para a exploração irregular de madeira.... Continua sendo uma região muito violenta com ausência do Estado para dar segurança a essas comunidades, mas pelos menos mais anteriormente, nós tínhamos ao nosso lado, pelo menos, as pessoas que defendiam as reservas e as áreas florestadas.

Agora, com a aprovação do relatório do deputado Aldo, sequer a lei vai estar a favor dessas pessoas. Essa questão que para mim está muito difícil de elaborar, porque uma coisa era, ainda que com todas as dificuldades e ameaças, ter ao seu lado a força da lei. Outra coisa é os ilegais serem transformados em legais, e vão agir em defesa do legitimo direito que eles adquiriram de desmatar.

E isso é muito difícil, porque de Chico Mendes (líder seringueiro assassinado em 1988) a padre Josimo (morto no Maranhão em 1986), de Padre Josimo a irmã Dorothy, de irmã Dorothy a José Claudio e Maria... e tantos que já morreram em função dessa luta de defesa à floresta.

Terra - Os madeiros e os fazendeiros, pelo menos os que sempre agiram na ilegalidade naquela região, ainda têm muita força no Norte do País?
Marina Silva - No Acre, essa situação desde que o Jorge Viana (PT) ganhou o governo foi sendo debelada. Graças a Deus, lá já não temos mais os conflitos violentos que tivemos na década de 80 e final da década de 70. Mas em vários rincões do Brasil isso ainda acontece de uma forma dramática, e o Estado do Pará, infelizmente liderando esse ranking tenebroso de assassinatos e ameaças a lideranças comunitárias e trabalhadores rurais. Sendo que agora, eu repito, não há mais a lei para proteger essas comunidades.

Terra - A senhora já chegou a receber alguma ameaça?
Marina Silva - Não, graças a Deus nunca recebi nenhuma ameaça.

Terra - Os governos usam o slogan "Amazônia" para mobilizar recursos para a região com foco no desenvolvimento sustentável. O que existe de concreto para as comunidades que sobrevivem dos recursos extraídos da floresta de forma sustentável?
Marina Silva - O apoio para a implementação dessas reservas ainda é muito aquém das necessidades que elas têm. O modelo predatório, há 400 anos vem sendo financiado, e recebe todo o apoio de todos os governos em todos os momentos da história. A ideia de um modelo que integre o desenvolvimento da floresta, isso é muito recente, data desde quando o Chico Mendes levantou essa bandeira, e nunca contou com o suporte necessário, ainda que conquistas tenham sido alcançadas para, de fato, mostrar que a floresta de pé é mais rentável do que transformada em pasto, rendendo uma cabeça de gado por hectare.

Terra - Existe muita diferença entre a política aplicada por Lula e agora pela Dilma em relação ao meio ambiente? E como a senhora interpreta a posição do Legislativo para a questão?
Marina Silva - Em termos da Câmara dos Deputados não preciso falar mais nada, é só ver o Código Florestal que foi aprovado, deixou de ser um Código Florestal para ser um código agrário. Como disse o (ex-)ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, saiu-se da regra de proteção das florestas para a exceção. A regra será desmatar e a exceção proteger....

Em relação a Dilma, sabemos que é um governo de continuidade e que ela assumiu o compromisso público, no segundo turno, respondendo uma séria de questões que eu havia apresentado, entre elas a do desmatamento e do Código Florestal, e ela respondeu que era contra qualquer ação que representasse qualquer anistia para desmatadores, e aumento de desmatamento, e reiterou esse compromisso na reunião que tivemos com ela com os outros ex-ministros.

Espero que agora ela possa trabalhar com sua base, que é uma base folgada, com 70% dos deputados da base do governo - no Senado é mais ampla até - que o governo trabalhe para que a base atue pelas posições da presidente. Porque eu sinto que quando se trata do pré-sal, do salário mínio e de outras questões de interesse do governo existe um trabalho para que a base seja fiel as propostas do governo. Na questão ambiental, desde a época do presidente Lula, estranhamente a base se revela sempre contrária à posição do governo.

(Por Daniel Favero, Terra, 29/05/2011)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -