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mobilidade urbana
2011-05-30 | Tatianaf

Não é nova a reivindicação de organizações e movimentos sociais pela priorização do transporte coletivo no sistema viário de São Paulo. No entanto, ao longo dos anos e em diferentes gestões, o que se vê é a destinação de recursos para a ampliação de vias de circulação prioritária dos automóveis.

Dois casos ilustram esse panorama: a construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, onde foram gastos R$ 5 bilhões, e as obras na pista central da marginal Tietê, que custou R$ 1,9 bilhão. Quando seus projetos foram lançados, o governo do estado e a prefeitura de São Paulo afirmaram que as duas obras juntas reduziriam em 12% os congestionamentos da cidade.

No entanto, um ano após a inauguração do trecho do Rodoanel e da pista central da marginal, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) coletados pela Rede Nossa São Paulo, dão conta de que houve aumento nos congestionamentos. No período de pico da manhã, em abril deste ano, a média do trânsito foi de 104 km, enquanto que no mesmo período de 2010, foi de 88 km.

O valor gasto na efetivação das duas obras, de R$ 6,9 bilhões, supera, por exemplo, o custo total da linha 4-Amarela do metrô, que terá 12 km de extensão, estimado em R$ 5,4 bilhões pela Via Quatro, concessionária responsável por sua construção.

Em comparação ao custo da construção de um corredor de ônibus, então, a diferença fica ainda maior. Os mesmos R$ 5,4 bilhões estimados para se fazer 12 km de metrô são suficientes para a construção de 168 km de corredores de ônibus.

O cálculo é de Gilberto Teixeira, gerente de Projetos Civis e de Sistemas da SPTrans (órgão que administra o sistema de transporte viário na Capital) , que garante que com o valor de um quilômetro de metrô é equivalente ao que se gasta para construir 14 km de corredores de ônibus.

Debate
A informação foi dada pelo gerente da SPTrans durante o seminário “O desafio do transporte público – ônibus e corredores na cidade”, realizado pela Rede Nossa São Paulo, nesta quarta-feira (25), em continuidade à série de debates sobre “Mobilidade e Transporte Sustentáveis – Soluções Inovadoras para a cidade”.

Teixeira representou a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) no evento e apresentou os projetos da prefeitura em relação aos corredores de ônibus. Também estiveram presentes Wagner Paula, representando o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP Urbanuss); Nailton Francisco de Souza, diretor do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores de Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo; o engenheiro e consultor de trânsito, Horácio Augusto Figueira; e Marco Sayão Magri, integrante do Movimento Passe Livre (MPL).

O objetivo do encontro foi debater as políticas públicas voltadas ao transporte público e apontar rumos para a melhoria da mobilidade na cidade. O consenso entre os participantes do seminário foi que deve-se priorizar o transporte coletivo no sistema viário da cidade. A principal medida defendida foi a construção e ampliação dos corredores de ônibus.

“O sonho do automóvel foi bom há trinta anos atrás. É preciso mudar isso para termos qualidade de vida na cidade”, ressaltou Horácio Figueira, lembrando que “quanto mais espaço for dado aos automóveis, mais eles o ocuparão”.

Transporte coletivo
O consultor de trânsito defendeu a urgência em se mudar o conceito de administração das vias públicas. “Ou a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) entrega o viário para a SPTrans, ou a gente vai ter que parar de falar, porque não vai adiantar”, disse. Para ele, a priorização da circulação dos ônibus nas ruas e avenidas da cidade só poderá ser feita pela empresa responsável pelos transportes coletivos, e não pela CET, que responde pelo tráfego dos automóveis.

Medidas imediatas, segundo Figueira, podem ser tomadas, como a utilização de faixas reversivas exclusivas para os ônibus, interdição de vias somente para a circulação dos coletivos e a elaboração de um decreto que determine que os carros devem dar passagem para os ônibus, de modo que eles não fiquem mais parados no trânsito.

Além disso, o consultor de trânsito avalia que a cidade de São Paulo precisa, hoje, de 400 km de corredores de ônibus para solucionar o problema de circulação nas principais vias.

Marco Sayão Magri lembrou, no entanto, que o debate em torno do transporte público é muito mais político do que técnico. “Se não tiver determinação política, mesmo que fizerem muitos corredores de ônibus, ainda assim vai se priorizar o carro”, disse o integrante do MPL.

Para Magri, a falta de novidade na discussão em torno do transporte público revela a ineficiência das sucessivas administrações, que destinaram recursos para a ampliação de vias para os carros, sem solucionar os problemas no transporte público, agravando a situação da mobilidade na cidade. “Hoje, você tem claramente na cidade uma priorização do transporte individual”, criticou.

Administração pública
O representante da SMT disse que a prefeitura tem hoje 11 projetos de construção de corredores de ônibus em fase de lançamento de edital para início de obras. Entre eles, Gilberto Teixeira destacou o corredor da Radial Leste; o corredor e o monotrilho que serão implantados em conjunto entre o Capão Redondo e a Vila Sônia; e o corredor de ônibus na avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin. Além disso, anunciou a requalificação de corredores já existentes, como o Inajar de Souza-Rio Branco-Centro.

“Em todos os projetos, os passeios serão refeitos, as guias rebaixadas para facilitar a locomoção e a sinalização melhorada”, garantiu o representante da secretaria.

Nailton Francisco de Souza, do sindicato dos motoristas de ônibus, por sua vez, se mostrou cético às promessas feitas pelo representante da SMT. “A [fala da] prefeitura é sempre assim, no gerúndio: estamos construindo, estamos providenciando, estamos fazendo. Mas [o projeto] nunca sai do papel”, protestou.

De acordo com Gilberto Teixeira, as obras de construção e ampliação dos corredores de ônibus deverão ser iniciadas em 2012, último ano da gestão do prefeito Gilberto Kassab.

Maurício Broinizi, coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo, que mediou o debate, manifestou sua preocupação com esta informação. Segundo ele, é preciso se ter a garantia da continuidade dos projetos na mudança de administração pública. “Isto somente é possível se a implantação dos projetos tiver a participação da sociedade, se tudo for feito através de um planejamento participativo”, defendeu.

Neste sentido, Broinizi criticou a falta de abertura ao diálogo por parte da administração municipal. “Não há política de comunicação no sistema de transportes de São Paulo”, alegou. Conforme ele, a restauração do Conselho Municipal de Transportes seria um avanço importante neste processo de participação popular nas iniciativas do setor.

Tal reivindicação foi ressaltada no Manifesto em defesa do Plano Municipal de Mobilidade e Transporte Sustentáveis divulgado ao final do encontro em um ato público. O documento cobra a STM a respeito da emenda orçamentária que foi aprovada na Câmara Municipal de São Paulo, em 2010, que destina R$ 15 milhões para a elaboração do plano.

Entre as propostas contempladas pelo plano estão: prioridade ao transporte público; adequação das calçadas aos pedestres, cadeirantes e a todos que nelas circulam; estabelecimento de metas e um programa de educação sobre mobilidade a fim de mudar o comportamento de motoristas, pedestres e ciclistas; participação popular na execução do plano, com a eleição e funcionamento do Conselho Municipal de Transportes e a criação de uma comissão de acompanhamento do plano.

(Por Michelle Amaral, Brasil de Fato, 27/05/2011)


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