As preocupações com a sustentabilidade das obras da Copa do Mundo de 2014 foram discutidas na quinta-feira no 1º Seminário de Infraestrutura e seus Aspectos Sustentáveis para a Copa de 2014, na Fiergs. Os aspectos ambientais estiveram no centro dos temas apresentados pela prefeitura da Capital, sobretudo em aspectos relacionados às consequências dos investimentos, que devem gerar 2 milhões de resíduos da construção civil (RCCs) em apenas três anos.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) atuará em duas frentes para o evento: o licenciamento e a agenda ambiental. Nesta última, os municípios devem se adequar a exigências, como eficiência energética, incentivo à reciclagem e minimização da geração de resíduos. É nesse ponto que os RCCs são uma preocupação para a Smam, cuja produção dos grandes geradores (ou seja, empreiteiras e indústrias) é de 60% do total, número que deve aumentar consideravelmente com as obras do evento.
O titular da Smam, Luiz Fernando Záchia, lembrou que os grandes geradores, que legalmente são responsáveis pelo destino dos resíduos, transferem o encargo para o poder público, o que não pode acontecer durante a Copa, sob o risco de que o processo entre em colapso.
Conforme Záchia, os governos já estão fazendo a sua parte, trabalhando em parceria com o Ministério Público e o Exército para encontrar soluções para o problema. O único aterro para RCCs de que dispõe a Capital, a Central de Resíduos Ábaco, no bairro Sarandi, não comportará a demanda dos próximos anos. Atualmente, a produção do município é de 75 mil toneladas. Para isso, estão sendo verificadas possibilidades de projetos de aterro em localidades como a pedreira na Lomba do Pinheiro. Atualmente, as grandes geradoras têm usado o aterro de Canoas, que, conforme o secretário, é inviável para a Copa, pois aumenta os custos e dificulta o acesso da maioria das obras, que serão realizadas na região centro-sul da Capital.
A reciclagem também deve ser cogitada. Záchia lembra que as organizações privadas, por meio de suas federações e sindicatos, devem tomar a iniciativa, transformando isso em uma atividade econômica rentável e geradora de emprego. Ele lembra que em cidades como São Paulo e Belo Horizonte, a escolha do local para a realização do evento contou com o planejamento de uma usina de reciclagem.
Outro desafio de responsabilidade da secretaria são os licenciamentos ambientais. Conforme o secretário, a licença para as obras da Copa é prioritária, porém os projetos ainda não foram entregues. "Se forem entregues no prazo, vão ser licenciados no prazo", assegura. Záchia garante que o licenciamento, que contará com um grupo de trabalho para agilizar o processo, não será negligenciado. Uma equipe técnica da Smam também será designada para vistoriar todas as obras.
Obras prontas só às vésperas do evento
Os questionamentos da população a respeito da concretização de todas as obras previstas para a Copa de 2014 foram contestados pelo prefeito José Fortunati no seminário na Fiergs. Para o prefeito, Porto Alegre é a única cidade-sede que duvida do seu potencial, e denominou as pessoas que acreditam que as obras não serão concretizadas como "caranguejos".
O secretário municipal de Gestão Estratégica, Newton Baggio, comentou que é provável que nem todas as obras que seriam necessárias para a cidade e que deveriam ter sido exigidas como contrapartida para outros investimentos saiam do papel. Porém garantiu que todas as previstas, como investimentos específicos para a Copa, serão concluídas, ainda que em julho de 2014, o que não deve comprometer a realização do evento.
Conforme Baggio, o atraso pode se dar para que a Capital não vire um canteiro de obras, necessitando de muitos desvios no trânsito. "Não somos loucos de achar que todas as obras serão executadas ao mesmo tempo e com a mesma eficiência, senão a cidade entra em colapso."
(Por Luana Fuentefria, JC-RS, 27/05/2011)