A promessa de energia limpa e renovável ao alcance de qualquer país capaz de produzir milho ou cana de açúcar, por exemplo, é uma ideia tentadora. Agrocombustíveis e biocombustíveis tornaram-se um compromisso estratégico dos países para o século 21.
Porém, Walden Bello, professor de sociologia e analista político, alerta para o aumento de preços de itens básicos de alimentação quando essa tecnologia é empregada.
Em "A Guerra Pelos Alimentos", o sociólogo analisa protestos violentos que ocorreram entre 2006 a 2008 --México, África, Filipinas e China-- e questiona o sistema de comércio mundial.
Além disso, o livro avalia a organização e a resistência de pequenos proprietários de terra e dedica um capítulo aos movimentos campesinos, entre eles o MST no Brasil.
Segundo o autor --antes da esperada luta pela água potável--, a escassez de comida é uma séria ameaça a estabilidade regional e internacional, e já está acontecendo. Leia, abaixo, um trecho do livro.
Países do norte e do sul estão sendo seduzidos pela promessa dos agrocombustíveis: uma medida de garantia de energia e independência do petróleo do Oriente médio. As flutuações de preço do petróleo no mercado mundial e a frágil situação da segurança em muitas regiões oferecem uma atração e ímpeto fortes para que os países busquem recursos de energia alternativos. Além disso, a ideia de colocar o milho e as sementes no tanque de gás faz parecer um algo a mais ao ambiente. O campo parece garantir um recurso comparativamente estável de energia renovável.
Todo mundo parece estar pegando carona, dos Estados Unidos e União Europeia à China, Filipinas, Brasil e África do Sul, para citar alguns. Os agrocombustíveis prometem desenvolvimento rural, menores emissões de gases de efeito estufa e um fornecimento potencialmente ilimitado de combustível - qualquer país que possa produzir cana de açúcar, beterraba, milho ou trigo pode fazer o próprio combustível. Não surpreende que na última década tenha havido uma proliferação de leis, mandatos, e outros mecanismos para incentivar a produção de agrocombustíveis em diferentes regiões e países.
As organizações regionais ativamente promovem a cooperação e transferência de tecnologia nessa área. Em janeiro de 2007, membros da Associação das nações do Sudeste Asiático (ASEAN) assinaram a Declaração Cebu sobre a Segurança Energética no Sudeste Asiático, que incentivou até mesmo o país exportador de petróleo, Brunei, a pegar carona com os agrocombustíveis.
A declaração incentivou a busca por recursos alternativos de energia e expressou grande apoio por cooperação no desenvolvimento de agrocombustíveis na região. A Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) também está incentivando a produção de agrocombustíveis e o consumo entre os seus países-membros, principalmente por meio da Força-Tarefa de Biocombustíveis que tem se reunido regularmente desde 2006. Entre os novos membros do grupo estão Austrália, com plantas de etanol em operação em novembro de 2007, e o Vietnã, cujo governo aprovou um plano para desenvolver o etanol e o biodiesel. Cada vez mais países na região estão sendo incentivados a diversificar seu portfólio de energia nessa direção.
(Folha.com, 26/05/2011)