O governo federal suíço propôs quarta-feira (25) desativar as cinco centrais nucleares assim que elas completarem 50 anos de funcionamento. O primeiro reator a ser desligado será da usina de Beznau I, em 2019. Os custos da desativação são estimados entre 2,2 e 3,8 bilhões de francos. O governo federal optou portanto pelo abandono paulatino da energia nuclear. As cinco usinas em funcionamento fornecem 40% da energia elétrica atualmente na Suíça.
As centrais nucleares serão desativadas progressivamente, ao completarem 50 anos de funcionamento. A primeira, Beznau I, deixará de funcionar em 2019. Outras duas, Veznau II e Mühleberg, em 2022. Gösgen será fechada em 2029 e a última, Leibstadt, em 2034.
Diante da imprensa, em Berna, capital suíça, a ministra do Meio Ambiente, Transportes, Energia e Comunicações, Doris Leuthard, explicou a decisão do governo.
“Até o presente, a energia nuclear fazia parte de nossa política energética porque tinha duas vantagens comparadas a outras energias. De um lado, era mais barata e de outro não produzia emissões de CO2. Mas depois de Fukushima, devemos refletir se queremos viver, na Suíça, com o risco residual ligado às centrais nucleares. Aliás, a evolução do mercado demonstra que o nuclear tende a ficar mais caro, enquanto as energias renováveis tendem a ficar mais baratas”, declarou.
Três cenários
O governo havia elaborado três variáveis para o pós- Fukushima. Manter as usinas nucleares e substituir as três mais antigas; não substituí-las ao final do período de funcionamento; abandono mais rápido desativando as cinco centrais existentes antes do fim do período de exploração.
As opções do estatuto atual ou uma saída rápida do átomo foram descartadas. Como esperado, o governo optou pela segunda solução e recomendou não substituir as centrais ao final de seu período de vida, ou seja, 50 anos.
A escolha do governo federa serve de recomendação para o Parlamento, que discutirá a questão a partir de 8 de junho. Uma decisão final dos parlamentares é aguardada para meados de junho.
Custos importantes
Desativar as usinas nucleares custará caro. Nos cálculos do governo, o abastecimento das necessidades em eletricidade fora do nuclear vai corresponder entre 0,4 e 0,7% do PIB (produto interno bruto), ou seja, de 2,2 a 3,8 bilhões de francos.
A produção das centrais nucleares deverá ser substituída pela energia hidráulica, energias renováveis e centrais a gás. O aumento da parte de energia fóssil deverá provocar uma alta das emissões de CO2 entre 1,09 e 11,92 milhões de toneladas em 2050.
No entanto, a continuidade das medidas de política energética deverá reduzir as emissões de CO2 de 14,4 milhões de toneladas em relação às emissões de 2009. No total, portanto, as emissões de CO2 não deverão crescer, mesmo aumentando a parte fóssil na produção de energia elétrica.
Quando ao financiamento, o governo federal estuda a possibilidade de imposto incitativo ou mesmo compulsório. A questão será discutida dentro de aproximadamente seis meses.
Efeito Fukushima
A catástrofe de Fukushima, em 11 de março último, Havia relançado o debate sobre o futuro do nuclear na Suíça, um país montanhoso que produz mais de 50% da energia de barragens hidroelétricas, 40% do nuclear e 10% de recursos renováveis.
Três dias depois do que ocorreu no Japão, o governo federal decidiu suspender os projetos de renovação das centrais nucleares. O governo também encarregou a Inspeção Federal da Segurança Nuclear (IFSN) de analisar as causas exatas do acidente no Japão e apresentar conclusões.
Enquanto em 2003, três anos depois de uma moratória de dez anos para a construção de novas centrais nucleares, os eleitores recusaram estender a moratória e uma saída progressiva do nuclear, a mobilização antinuclear retomou vigor nas últimas semanas.
Domingo passado (23), 20 mil pessoas protestaram perto da usina de Beznau, maior manifestação dos últimos 25 anos.
Alhures na Europe
Na Europa, apenas a Alemanha pensa em abandonar o nuclear. A catástrofe de Fujushima não mudou a posição de outros países, apesar da oposição nas ruas ter aumentado.
Depois da catástrofe de março último no Japão, a chanceler Angela Merkel decidiu fechar por três meses, até meados de junho, os sete mais antigos reatores da Alemanha. Ela também havia colocado em questão a extensão do funcionamento por 12 anos de 17 reatores nucleares que a maioria parlamentar tinha votado alguns meses antes. O governo alemão deverá definir sua estratégia do átomo até o início de junho e formular um projeto de lei.
Os outros países europeus restam inflexíveis, como a França e a Grã-Bretanha, que têm o maior número de reatores nucleares na Europa. O presidente francês, Nicolas Sarkozy repetiu várias vezes: não vamos sair do nuclear.
Entre os países vizinhos da Suíça, apenas a Áustria abandonou a energia atômica desde 1978.
A posição da Itália é ambivalente. Roma abandonou o nuclear em 1987, depois da catástrofe de Tchernobyl e em referendo 80% dos italianos votaram contra essa energia. Essa decisão não havia sido questionada até 2008, quando o governo Berlusconi anunciou sua intenção de construir 13 centrais nucleares de nova geração até 2020. Depois de Fukushima, o debate é intenso na península, mas o governo mantém sua posição. Um referendo é previsto em junho.
Quanto à União Europeia, Bruxelas não tem poder nessa matéria porque a escolha do nuclear compete aos Estados membros. Mesmo assim, a EU decidiu testar a resistência de seu parque nuclear a fenômenos extremos. Mas a Comissão Europeia pena encontrar um acordo acerca dos critérios.
(Swissinfo, 25/05/2011)