O Diretor-Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa, Pedro Arraes, anunciou um importante avanço científico nos laboratórios da Empresa – a obtenção de plantas transgênicas de cana-de-açúcar. “Esta é uma ação de interesse para o Brasil”, declarou. As perdas em cana-de açúcar devido a seca podem variar de 10% a 50 % dependendo da região de cultivo e da época de plantio. A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF), que completa cinco anos na terça-feira (24) obteve as primeiras plantas transgênicas confirmadas de cana-de-açúcar tolerante a seca com o gene DREB2A.
Buscando-se soluções para o negócio da agroenergia no Brasil, a pesquisa avança em processos e resultados técnico-científicos, visando ofertar novos conhecimentos, materiais, tecnologias com foco na inovação. Nos laboratórios foram obtidas as primeiras plantas transgênicas de cana-de-açúcar, e vencida uma etapa crítica do processo de transgenia, aceleram-se os passos seqüenciais para a obtenção de novos cultivares comerciais. As plantas foram selecionadas em laboratório e nos próximos três meses estarão , em estágio de multiplicação in vitro para serem avaliadas em casa de vegetação. Até maio de 2012, serão avaliadas quanto às características de tolerância à seca. Após estes processos, as que apresentarem melhor desempenho, tanto agronômico quanto das características pretendidas, terão potencial de avaliação a campo mediante aprovação de processo junto ao Comitê Técnico Nacional de Biossegurança (CTNBio).
As pesquisas com transgenia em cana-de-açúcar vêm sendo desenvolvidas, desde 2008, sob a coordenação do pesquisador Hugo Bruno Correa Molinari, da Embrapa Agroenergia (Brasília/DF). O trabalho é realizado em parceria e conta com o apoio de laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF), que possuem características exigidas pelas normas da CTNBio para estudos com organismos geneticamente modificados. A pesquisa conta com o apoio da Japan Internacional Research Center for Agricultural Sciences (Jircas), empresa de pesquisa vinculada ao governo japonês, o projeto de cooperação técnica visando à inserção do gene promissor (gene DREB) para tolerância à seca está sendo feito em outras culturas: eucalipto, soja, milho, algodão e feijão.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agroenergia responsável pela pesquisa com cana-de-açúcar, Hugo Molinari, a proposta é desenvolver cultivares comerciais com maior tolerância a seca que poderá potencializar o setor sucroalcooleiro nas áreas tradicionais e de expansão da cultura. De forma geral, as áreas de expansão têm como características solos com baixa fertilidade, altas temperaturas e baixa precipitação pluviométrica. A tecnologia desenvolvida pode ser uma alternativa para melhorar o desempenho da planta, visando impulsionar a produção de cana-de-açúcar no Brasil. Mudanças climáticas globais cada vez mais acentuadas, como, por exemplo, o processo de desertificação, constituem um problema que afetará seriamente as gerações futuras. Atenta às mudanças, a Embrapa Agroenergia, busca, com a pesquisa minimizar os impactos causados por tal fenômeno.
O método
Hugo Molinari explica que as primeiras plantas foram obtidas pelo método de biobalística, que é o mais utilizado atualmente na produção de cana geneticamente melhorada devido à maior simplicidade e praticidade de aplicação. “Quando se trabalha com transgênicos, é preciso fazer vários estudos para provar que eles podem ser utilizados e que são equivalentes a uma outra planta que não sofreu a inserção da característica desejada”, salienta Molinari. A introdução de características para o melhoramento da cana-de-açúcar por meio da transgenia deve produzir em alguns anos, variedades mais resistentes a doenças e capazes de tolerar ambientes marginais com solos salinizados ou com pouca água disponível.
O melhoramento clássico de cana-de-açúcar convencional é um processo demorado e trabalhoso. Atualmente, com este processo são necessários de 12 a 15 anos para se obter uma nova variedade. Por meio da transgenia é possível a redução do período para sete anos. Este método oferece vantagem de modificar somente a característica de interesse, no caso da pesquisa em andamento, o aumento da tolerância à seca.
Atualmente, ainda não existe variedade de cana-de-açúcar transgênica comercial. Com isso, um enorme potencial para o aumento da produção física de cana e seus derivados, como o etanol, se abre com as alternativas para o melhoramento genético da cana-de-açúcar via transgenia. A cultura ocupa um papel estratégico como fonte para a produção de etanol que no Brasil é totalmente oriunda da cana-de-açúcar. A produção está concentrada principalmente nas regiões Centro-Sul e Nordeste e ocupa uma área de aproximadamente 8,1 milhões de hectares.
(Agora MS, 25/05/2011)