A ilha de Tuvalu, na Polinésia, localizada entre o Havaí e a Austrália, é o lar de mais de 11 mil pessoas cuja existência está ligada ao mar e à sua generosidade, mas encontra-se ameaçada pela elevação das águas do Oceano Pacífico.
A reportagem é de Susan Kim e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 23-05-2011.
O quarto menor país do mundo, com menos de 26 quilômetros quadrados, está diminuindo e o povo de Tuvalu está prestes a entrar para o grupo de refugiados ambientais. A injustiça desta situação e de outras ao redor do mundo esteve no centro dos debates da Convocatória Ecumênica Internacional pela Paz (CEIP) na sexta-feira, 20, em Kingston, Jamaica.
O secretário geral da Igreja Congregacional de Tuvalu, reverendo M. Tafue Lusama, disse que seu país enfrenta, agora, secas mais prolongadas do que as registradas no passado e que a água salgada tem invadido o lençol freático. "Dependemos apenas da água da chuva e estamos enfrentando padrões climáticos imprevisíveis”, relatou.
Aquela vida outrora sustentável está ameaçada, agora, por forças além do controle de Tuvalu. "As pessoas não são capazes de usar suas habilidades tradicionais para sobreviver", disse Lusama.
A real causa da subida das águas ao redor do território de Tuvalu encontra-se longe deste paraíso do Pacífico sul. Suas raízes estão nos centros industriais do hemisfério Norte. É de lá que sai a maior contribuição para as mudanças climáticas. O maior desafio é reverter seu impacto negativo.
Adrian Shaw, coordenador do projeto Igreja e Sociedade, da Igreja da Escócia, alertou que as mudanças climáticas constitum uma ameaça séria e imediata. “Nossa violência contra a Terra é também a violência contra as pessoas”, frisou.
Para Lusama, o aumento das águas do mar que ameaça Tuvalu significa a perda do lar, da cultura, do estilo de vida e da dignidade. Não são apenas guerras que causam tamanha violência.
Shaw partilhou a história de uma "eco-igreja" que surgiu na Escócia e começa a se espalhar pelo mundo. Essas congregações comprometeram-se em reduzir duas pegadas ecológicas e partilhar sua experiência. Já são mais de 270 congregações ecológicas na Escócia, disse Shaw.
O professor Kondothra George M. também falou sobre a relação entre a justiça para a humanidade e justiça para a Terra. "Paz e justiça não são problemas simplesmente humanos a serem debatidos e trabalhados de forma isolada", disse, mas são questões que devem ser discutidas a partir da ciência, considerando que há milhões de formas de vida na Terra além dos seres humanos.
"Temos de mudar o atual paradigma de progresso e desenvolvimento", disse George. "É esta a maior conquista humana?" – indagou.
A idéia de realização humana está intimamente relacionada com a doença da ganância humana, ressaltou Elias Crisostomo Abramides, um leigo ortodoxo grego, do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla da Argentina e representante do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) na Comissão da ONU sobre Mudanças Climáticas.
"Outro mundo é possível", proclamou. "Esse mundo da ganância e do orgulho não é um mundo com futuro. Precisamos de uma mudança de paradigma que traga dignidade, paz e amor para a vida de todos os seres humanos. Para estarmos em paz com a Terra, deve haver paz na Terra”, comparou.
Outros oradores descreveram a visão de paz com a terra de uma forma mais lírica. A irmã Ernestina López Bac, teóloga indígena Kaqchiquel, da Guatemala, falou de uma teologia com raízes ancestrais.
"Falar sobre a visão cósmica e a sabedoria dos povos indígenas significa, fundamentalmente, falar sobre valores", disse ela. "Entendemos os valores como o coração e a energia do pensamento e da sabedoria."
À medida que, mais e mais, o frágil ecossistema de Tuvalu é vítima do aquecimento das águas e do nível dos mares, a realidade continua sendo dura para os países industriais do Norte. Reduzir e renovar a Criação de Deus não é mais um luxo, mas uma tarefa urgente, se lugares como Tuvalu ainda devem sobreviver.
A Convocatória é patrocinado pelo Conselho Mundial de Igrejas, pela Conferência de Igrejas do Caribe e pelo Conselho de Igrejas da Jamaica. O encontro termina amanhã.
(IHU-Unisinos, 24/05/2011)