Plano do governo de criar um imposto sobre a emissão de carbono em 2012 ganha força com um novo relatório que salienta a gravidade das mudanças climáticas, mas a medida conta com o apoio de apenas 30% da população.
A Austrália já vem há algum tempo sendo palco de acaloradas discussões sobre a necessidade de criar uma taxa sobre as emissões de gases do efeito estufa e outras medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas. Esse debate é acompanhando com interesse por outros países, inclusive pelo Brasil, porque situações semelhantes deverão acontecer em todos eles nos próximos anos.
Para sair da retórica, o governo criou a Comissão Climática da Austrália, que reúne cientistas de diversas especialidades, com o objetivo de identificar a real ameaça das mudanças climáticas e assim informar a população se é preciso agir para freá-la.
O primeiro grande relatório da Comissão foi publicado nesta segunda-feira (23). Chamado de “The Critical Decade” (A Década Crítica), o documento afirma que a Austrália já está sofrendo os impactos sociais, econômicos e ambientais das mudanças climáticas.
Segundo o trabalho, o número de dias com temperaturas acima do normal dobrou nos últimos 50 anos, aumentando o risco de ondas de calor, que provocam danos à saúde pública e facilitam a proliferação de grandes incêndios. O relatório identificou ainda o aumento no nível dos oceanos de 20 centímetros desde o final do século XIX, o que afetou a vida em comunidades costeiras. Até 2050, os oceanos devem subir outros 20 centímetros, mais que dobrando o risco de enchentes.
Problemas com a biodiversidade também foram constatados, como, por exemplo, os nove eventos de “branqueamento” na Grande Barreira de Corais nos últimos 31 anos. A Comissão afirmou que as decisões para combater as mudanças climáticas devem ser tomadas durante esta “década crítica”, e que o ideal seria que as emissões atingissem seu ponto máximo nos próximos anos e então passassem a cair rapidamente.
“É necessário usar qualquer meio ao nosso alcance para reduzir as emissões de carbono o quanto antes. Precisamos precificar o carbono, isso é inevitável”, afirmou Tim Flannery, presidente da Comissão.
Taxas
O relatório chega em um momento propício para o governo australiano, que está tentando aprovar um imposto sobre o carbono a partir de 2012.
Greg Combet, ministro de Mudanças Climáticas, afirmou que o documento deixa claro que o país não pode mais esperar para agir. “Os próximos anos são essenciais para colocar a economia em um caminho de menor intensidade de carbono. Mitigar as mudanças climáticas é a coisa certa a fazer para a nossa economia, empregos e meio ambiente”, declarou.
A primeira-ministra Julia Gillard também recebeu bem o relatório e criticou a oposição, afirmando que estão cegos à realidade. “Não temos tempo para debates vazios. A ciência é clara, a poluição causada pelo homem está alterando nosso planeta e clima. É hora de cortar nossas emissões”, disse Gillard ao parlamento australiano.
O plano da primeira-ministra é ter, já a partir do ano que vem, uma taxa entre A$20 a A$30 para cada tonelada de carbono emitida. Com isso, ela espera que o setor de geração de energia busque investir em fontes limpas. A oposição, que chamou o relatório de “alarmista”, alega que essa taxa irá causar a perda de empregos e aumentará o custo da eletricidade no país, e diz preferir uma política de créditos de carbono ao invés de um imposto.
Pesquisas de opinião demonstram que apenas 30% dos australianos são a favor da taxa de carbono. A Austrália é responsável por 1,5% das emissões mundiais de gases do efeito estufa e possui o maior índice de emissões per capita.O país é o principal exportador de carvão do planeta e depende do combustível para 80% de sua geração de eletricidade.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, IHU-Unisinos, 24/05/2011)