O aumento do ritmo das motosserras na Amazônia em áreas tradicionais de cultivo de soja em Mato Grosso ameaça a moratória da soja – pacto celebrado em 2006, por meio do qual a indústria de óleos vegetais e os exportadores de soja se comprometeram a não comercializar a soja produzida em áreas de desmatamento na Amazônia.
Os primeiros dados dessa ameaça apareceram nas imagens de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que registraram o aumento do abate de árvores sobretudo em Mato Grosso. Levantamento feito pelo Departamento de Geoprocessamento de Imagens da ONG Greenpeace, a que o Estado teve acesso, mostra coincidência entre as áreas de desmatamento e as grandes plantações de soja na região.
O município de Nova Ubiratã, por exemplo, que registrou 16% dos alertas de desmatamento no bimestre março-abril, detém 240 mil hectares de plantações de soja. Com 14% dos casos de desmatamento registrados, o município de Itanhangá tem 46 mil hectares de soja. A região está na fronteira entre os biomas Cerrado e Amazônia.
Não é possível afirmar que as áreas desmatadas recentemente serão destinadas ao cultivo de soja, até porque os produtores costumam recorrer ao plantio de arroz para preparar o solo para a soja, diz o Greenpeace, que coordena o pacto da soja com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
“Para a moratória sobreviver, a indústria da soja vai ter de dar uma resposta rápida e contundente de que esses produtores que desmataram não conseguirão vender sua produção. Ou a moratória vai para o vinagre”, comentou Paulo Adário, diretor do Greenpeace. “Vamos seguir sem comprar de quem desmatou recentemente”, adiantou Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. “A moratória tem nos ajudado muito internacionalmente na comercialização de produtos brasileiros.”
Vigia. O monitoramento da moratória da soja conta com uma parceria com o Inpe para detectar a presença de plantio em áreas desflorestadas. Em seguida, sobrevoos nas propriedades confirmam o cultivo de soja.
No terceiro monitoramento, feito na safra de 2009/2010, foram identificados 6,3 mil hectares de plantio de soja em área desmatada. Na ocasião, a Abiove justificou o aumento da área à conjuntura favorável do mercado internacional, que teria estimulado o crescimento do plantio sobre áreas de floresta. A área desmatada na época do último monitoramente correspondeu a 0,25% do desmatamento registrado nos Estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia.
Os indícios de que a expansão das plantações de soja teria contribuído para o aumento do desmatamento já são analisados pelo gabinete de crise criado para combater o aumento do ritmo das motosserras na região. Na próxima semana, responsáveis pela moratória da soja deverão ser convocados em Brasília para ajudar no combate ao desmatamento.
(Por Marta Salomon, em O Estado de S.Paulo, EcoDebate, 24/05/2011)