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energia nuclear no Japão passivos da energia atômica
2011-05-23 | Tatianaf

O caso do desastre nuclear de Fukushima está longe de ser encerrado. Não só o país vem reconsiderando a importância a ser dada à energia atômica agora, como as críticas relativas a como o governo administrou a crise não estão enfraquecendo. Cientistas, sobretudo da Universidade de Tóquio, vêm questionando a veracidade das medições de radioatividade e as condições nas quais elas estão sendo realizadas – a 18 metros de altitude, um nível elevado demais, de acordo com alguns. Essas reconsiderações trazem de volta à tona a questão das ligações entre a indústria nuclear, as autoridades reguladoras e o poder público dentro do país.Reportagem de Philippe Mesmer, Le Monde.

Embora o primeiro-ministro Naoto Kan tenha declarado, na quarta-feira (18), que “a energia nuclear continuará a ser utilizada”, ele manteve seu apelo por uma revisão da política energética japonesa, que tem como um dos objetivos aumentar a participação da energia atômica de 28% para 50%, desenvolvendo o uso das energias renováveis.

Kan condicionou a preservação da energia nuclear a rigorosas garantias de segurança, que passariam pela criação de uma entidade de controle realmente independente. Até o acidente da usina de Fukushima, essa missão cabia à Agência de Segurança Nuclear e Industrial (NISA), uma estrutura sob tutela do ministério da Economia, do Comércio e da Indústria (METI) e cuja ação se concentrou mais na promoção da energia atômica do que no controle das instalações.

Ao afirmar que o programa nuclear será mantido, o primeiro-ministro quer acalmar os partidários dessa energia, descontentes com o pedido feito no dia 6 de maio, para surpresa geral, para que a usina de Hamaoka, no centro do Japão, tivesse suas operações suspensas, em razão dos fortes riscos sísmicos que a ameaçam. O presidente do Keidanren (a principal organização patronal japonesa), Hiromasa Yonekura, chamou a atitude do governo de “irresponsável”. A montadora de automóveis Toyota, cujas fábricas se situam em grande parte na zona servida pela Companhia Elétrica de Chubu (Chuden), operadora da Hamaoka, lamentou a falta de coordenação. Os produtores de eletricidade temem o aumento dos custos de se reiniciar as usinas térmicas.

A interrupção de Hamaoka também teria desagradado os parceiros do Japão, sobretudo os Estados Unidos, o Reino Unido e a França. “A decisão de Kan contraria os planos franceses de promover a energia nuclear durante a cúpula do G-8 em Deauville, nos dias 27 e 28 de maio”, acredita Yasuhiko Ota, analista do jornal de economia “Nihon Keizai Shimbun”. Ota lembra que “a visita do presidente Nicolas Sarkozy no centro da crise nuclear, no dia 31 de março, era destinada a evitar uma reação excessiva ao acidente e a atenuar os temores inúteis sobre a contaminação radioativa”.

Longe dessas considerações, a reação da opinião pública sobre a interrupção de Hamaoka é mais positiva. Segundo uma pesquisa do jornal “Asahi Shimbun”, 62% dos japoneses aprovam a decisão tomada, e os partidários da energia nuclear agora são minoria. Essa percepção nova se traduz nas manifestações que reúnem milhares de pessoas contra a energia atômica.

Nesse contexto, mesmo a grande mídia tem se distanciado da energia nuclear. A publicação semanal “Economisuto” do dia 24 de maio dedicou um dossiê aos meios de não se depender mais dessas energias. E a revista citou um estudo do professor Hidefumi Kurasaka, da Universidade de Chiba, para que o desenvolvimento das energias renováveis, que hoje geram somente 1% de eletricidade japonesa, possa compensar até 2040 a interrupção dos 54 reatores atualmente em serviço.

Um ponto reafirmado pelo Instituto para uma Política Energética Sustentável (ISEP), que acredita ser possível reduzir pela metade o consumo de eletricidade até 2050: o Japão tem uma capacidade de produção de energia elétrica de 237 gigawatts (49 GW em energia nuclear) mas um consumo diário máximo de 165 GW.

Em seu pronunciamento do dia 18 de maio, Kan pediu por uma “revisão da regulamentação da eletricidade”, que poderá significar uma separação da produção e da distribuição. Em abril de 2012, uma nova legislação obrigará os produtores a comprarem a um preço fixo a eletricidade produzida a partir de energias renováveis. Isso deve favorecer seu desenvolvimento e pode dar a entender que no Japão, apesar das posições oficiais, a energia nuclear não é mais uma prioridade

(Le Monde, UOL Notícias, EcoDebate, 23/05/2011)


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