Está nos jornais de quinta-feira (19/5) o resultado do impasse nas discussões sobre o projeto de mudança do Código Florestal: muito provavelmente estimulados pelas promessas do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto, de que seriam anistiados, proprietários de terras na Amazônia produziram um desmatamento tão grande nos últimos meses que foi preciso montar uma operação de guerra e um gabinete de crise no Ministério do Meio Ambiente.
Está em todos os grandes jornais, com manchete na Folha de S.Paulo e destaque nos demais: o desmatamento cresceu 27% entre agosto de 2010 e abril deste ano.
Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o estado de Mato Grosso foi outra vez o campeão da derrubada, com o fim de mais de 480 quilômetros quadrados de florestas. A terra da senadora Kátia Abreu (DEM), a mais ruidosa entre os representantes do agronegócio não sustentável, chegou a desmentir, na tribuna do Senado, as informações preliminares do Instituto Imazon, que na segunda-feira (16/5) havia divulgado números assustadores do crime ambiental.
Na quarta-feira (18) , com a confirmação dos dados pelo Inpe, segundo o Estadão, a brava inimiga das florestas ficou calada.
Esforço em vão
A situação, segundo os jornais, leva o governo federal a suspender as negociações em torno do projeto do Código Florestal. Mas por pouco tempo.
O Globo informa que o Ministério do Meio Ambiente vai mapear todas as áreas desmatadas e expropriar tudo que for colocado nos lugares onde antes havia árvores. Se houver plantações, as colheitas serão apreendidas. Se essas áreas forem destinadas à pecuária, o gado será recolhido e destinado ao programa Fome Zero, declarou a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, de acordo com os jornais.
A ministra evitou relacionar o aumento da devastação à proposta de flexibilização da legislação ambiental, mas representantes do Ibama e outros especialistas citados pelos jornais afirmam que as promessas de anistia para desmatadores, contidas no relatório do deputado Aldo Rebelo, certamente estimularam o aumento da derrubada.
O levantamento revela que todo o esforço para defender a Floresta Amazônica nos últimos anos pode ser perdido em poucos meses, se o desmatamento prosseguir no mesmo ritmo.
Meio ambiente e transparência
A própria senadora Kátia Abreu admitiu, segundo a Folha, que a expectativa de uma anistia pode ter influenciado o desmatamento ilegal. Ainda assim, ela pressiona para que a votação do novo Código Florestal seja realizada rapidamente.
Acontece que os dados desastrosos do Inpe obrigam o governo a tomar medidas extraordinárias, para conter a ação dos predadores. De acordo com fonte citada pelo jornal paulista, a discussão agora sai do Parlamento e passa para o Ministério das Relações Exteriores, por causa de possíveis consequências econômicas e diplomáticas se o Brasil descumprir os compromissos firmados para a preservação da Amazônia e as metas acordadas nos foros sobre mudanças climáticas.
O Estadão noticia que, mesmo diante do desastre comprovado, o governo vai fazer concessões e levar o projeto do novo Código Florestal a votação na semana que vem.
Há suposições de que a crise provocada por denúncias de enriquecimento ilícito do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, tenham fragilizado o governo nos debates com a bancada ruralista e no convencimento de sua própria bancada. Tendo que atuar em duas frentes, contra a flexibilização das leis ambientais e na tentativa de blindar o ministro, as lideranças governistas teriam perdido fôlego no embate em defesa do patrimônio ambiental.
Esse contexto cria excelente oportunidade para a imprensa esclarecer como, na busca pela sustentabilidade, a questão ambiental se relaciona a outros temas, como a ética e a transparência na política. Mas, como sempre, essa oportunidade será perdida porque a imprensa tradicional só enxerga um problema de cada vez.
É guerra
Pressionado no Congresso, o governo terá de agir com mais rigor fora dele. O avanço dos desmatamentos pode quebrar os efeitos da política de preservação implantada no governo anterior, que conseguiu reverter a tendência de desmatamentos a partir de 2006 e obteve, em 2010, números recordes na redução das derrubadas.
A presidente Dilma Rousseff corre o risco de passar à História por perder uma guerra praticamente resolvida. Para evitar esse desastre, terá de agir com rapidez e rigor.
O Globo informa que o governo vai usar até mesmo a Força Nacional de Segurança e o Exército para conter os desmatadores.
Agora é guerra.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 19/5/2011)