A União Europeia não conseguiu chegar hoje a um acordo sobre a abrangência dos testes de segurança que serão feitos às centrais nucleares europeias, na sequência do acidente de Fukushima, no Japão.
Alguns países, em especial a França, querem que os testes envolvam apenas cenários como os de Fukushima – que envolveu os efeitos de um sismo, um tsunami e um corte de electricidade que causou o colapso do sistema de arrefecimento da central nuclear. Outros países, como a Alemanha, e a própria Comissão Europeia, no entanto, desejam alargar os testes a outras situações, como o embate de aviões ou ataques terroristas.
Numa reunião hoje em Bruxelas, a Comissão e os representantes das agências de segurança nuclear dos diversos Estados-membros não chegaram a um consenso e um novo encontro foi agendado para 19 e 20 de Maio, em Praga. “Ao longo da reunião de hoje, foram feitos progressos mas nenhuma decisão foi tomada”, informa a Comissão num comunicado, citado pela agência AFP.
A realização dos testes de segurança foi decidida por Bruxelas em Março, cerca de duas semanas depois de o sismo e tsunami no Japão terem causado o desastre nuclear da central de Fukushima I, cerca de 250 quilómetros a Norte de Tóquio. Falhas no sistema de arrefecimento, explosões e fugas radioactivas fizeram do episódio de Fukushima um dos mais graves acidentes da história da energia nuclear. A situação ainda não está totalmente controlada e milhares de pessoas estão impedidas de regressarem às suas casas, num raio de 30 quilómetros da central.
No princípio de Abril, as entidades reguladoras dos países europeus com energia nuclear sugeriram uma metodologia que cingia os testes a eventos similares aos de Fukushima. A proposta admitia, no entanto, situações semelhantes, mas de diferente origem – como cheias causadas por mau tempo ou cortes de energia provocados por problemas na rede eléctrica ou “actos malevolentes”.
Na terça-feira passada, o comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, afirmou no Parlamento Europeu que não poria a sua assinatura num programa de testes “aligeirado”.
A eurodeputada portuguesa Maria da Graça Carvalho, membro da Comissão de Indústria, Investigação e Energia no Parlamento, concorda com esta abordagem mais ampla. “Devem ser feitos testes a tudo. É importante que as populações fiquem mais tranquilas em relação à segurança das centrais que estão mais perto delas”, disse Graça Carvalho ao PÚBLICO. “Se não dermos esta segurança, acho que vamos passar por uma fase com muita pressão contra o nuclear”.
Há 148 centrais atómicas na UE, distribuídas por 15 dos 27 Estados-membros. Juntas, suprem um terço do consumo de electricidade da UE. Os testes envolvem a verificação técnica da capacidade das centrais em suportarem sismos ou cheias de magnitude superior às que foram consideradas em projecto. Também será avaliada toda a cadeia de acontecimentos possíveis no caso de um evento extremo – incluindo a existência e funcionamento de sistemas eléctricos de emergência.
Segundo a Comissão Europeia, os testes devem ser conduzidos pelas próprias autoridades nacionais de cada Estado-membro, mas os resultados seriam sumbetidos ao escrutínio de especialistas de outros países. Este é outro ponto que estará a dificultar o consenso final sobre o formato dos testes, dado que países pró e contra o nuclear podem ter leituras diferentes dos resultados.
Num memorando divulgado ontem, a Comissão Europeia sustenta que, se uma central não passar nos testes e se a sua reconfiguração não for técnica ou economicamente viável, “os reactores devem ser encerrados e desmantelados”. Esta decisão caberá também aos Estados-membros, mas Bruxelas diz que tornará todos os resultados públicos.
A Comissão promete apresentar um relatório preliminar sobre os testes ao Conselho Europeu no dia 9 de Dezembro.
(Por Ricardo Garcia, Ecosfera, 13/05/2011)