Mesmo com forte oposição da sociedade chilena, a Comissão de Avaliação Ambiental (CEA, na sigla em espanhol) do parlamento chileno aprovou, ontem (9), com 11 votos a favor e um contra, a primeira fase do projeto Hidroaysén, que prevê a construção de cinco hidroelétricas em Aysén, região localizada a 1.800 km de Santiago. Com as obras, milhares de hectares serão devastados e inundados. Participaram da votação o diretor da Comissão, os secretários regionais ministeriais de Transportes, Energia, Moradia, Agricultura, Planejamento e Cooperação, Economia, Meio Ambiente, Obras Públicas, Mineração e Saúde, o único que se absteve.
O projeto terá investimento de 3,2 bilhões de dólares e serão construídas duas represas no rio Baker e três no rio Pascua. De acordo com as empresas Endesa Chile, filial da Endesa Espanha, e a chilena Colbún, responsáveis pelos empreendimentos, a meta é gerar 18.430 gigawatts a cada hora. Cercado de contrariedades ambientais, o projeto Hidroaysén foi apresentado em 2008. Acerca dos impactos sócio-ambientais, foram emitidas 2.643 observações, por 32 organismos com competência ambiental. Depois de dois adendos ao projeto, o número de observações caiu para 200.
Para apaziguar os ânimos, a intendente, Pilar Cuevas, anunciou benefícios que a multinacional Endesa e a família Matte, responsáveis pela execução das obras, concederão às comunidades atingidas pelo projeto: desconto de 50% sobre o valor da energia de Aysén, bolsas de estudo e propaganda para a região. Além da construção das represas, terá de ser construída uma linha de transmissão de mais de dois mil quilômetros, ligando o local a Santiago. Apesar de serem interligados, os projetos foram separados para facilitar a aprovação, segundo denunciam ambientalistas. O projeto da linha de transmissão ainda não foi votado.
Os ambientalistas acusam o setor mineiro de ser o responsável pelo alto consumo de energia no Chile, concentrando 38% do uso. As outras indústrias consomem 28%, as residências respondem por 16% e o comércio fica com 11%. Eles citam dados da Comissão Chilena do Cobre, que estima que, até o ano 2020, a demanda energética será de 27.120 GWh, um aumento de 52,5% com relação ao consumo de 2008.
Um dia antes da aprovação do projeto, o presidente chileno, Sebastián Piñera, declarou à imprensa local que "se não há energia hidráulica, então o que vai ter são mais centrais a carvão”. Ele defendeu o projeto, sublinhando que "dezenas de organizações fizeram centenas de observações para diminuir os efeitos danosos e proteger melhor a natureza”.
Resistência
Suspeitando que a votação ocorreria ontem, militantes chilenos organizaram, à noite, a Grande Marcha Cidadã NÃO a Hidroaysén. Milhares de pessoas se manifestaram em repúdio à aprovação do projeto que trará muitos impactos sócio-ambientais. As manifestações se repetiram em outras cidades chilenas. De acordo com informações da TeleSur, os manifestantes de Santiago jogaram pedras e garrafas contra a sede da CEA, e entraram em confronto com uma centena de guardas. Os ativistas foram agredidos com água, gases e golpes.
Uma mulher de 36 anos teria ficado ferida após uma pedra ter atingido o carro do prefeito de Coyhaique, Omar Muñoz. Além disso, o deputado René Alinco, forte apoiador das hidrelétricas de Aysén, foi recebido com vaias e moedas atiradas a seus pés, em sinal de protesto. Ainda de acordo com a TeleSur, uma pessoa foi detida ontem e os manifestantes preparam mais uma grande mobilização para deter a execução do projeto. Ontem, antes mesmo da votação, a Corte de Apelações Coyhaique aceitou um recurso contra o projeto, apresentado pelo deputado Gabriel Silber.
(Por Camila Queiroz, Adital, EcoAgência, com informações de TeleSur e mapuexpress.net, 12/05/2011)