A interconexão energética entre o Brasil e o Uruguai envolverá diretamente o Rio Grande do Sul, onde está localizada a fronteira entre os dois países. Essa aproximação acontecerá através de novas linhas de transmissão de energia e a construção de usinas, principalmente eólicas, entre as nações.
Um dos empreendimentos mais adiantados, lembra o secretário de Energia do Ministério de Indústria, Energia e Mineração do Uruguai, Ramón Méndez Galain, é a instalação de uma linha de transmissão, com tensão de 500 kV, que ligará a região gaúcha de Candiota até San Carlos, cidade que fica próxima a Montevidéu. Conforme o dirigente, a implementação da estrutura deve se iniciar em até dois meses e ser finalizada em 2013.
Além desse complexo, está sendo construída uma conversora de frequência, em Melo, localidade uruguaia que fica a cerca de 50 quilômetros da fronteira com o Brasil. O investimento na iniciativa é de aproximadamente US$ 320 milhões por parte do governo uruguaio, através da estatal Administración Nacional de Usinas y Trasmisiones Eléctricas (UTE). No lado brasileiro, algumas obras de transmissão relativas a essa integração estão sendo conduzidas pela Eletrobras.
Galain detalha que a ideia prevê que quando um dos países verificar excedente de energia exporte para o outro essa sobra, por meio de contratos de curto prazo. Outra meta, ressalta o secretário, é consolidar uma parceria para a construção de usinas de energias renováveis no âmbito do Mercosul, com destaque para o segmento eólico. O governo uruguaio deseja ainda fazer uma associação entre UTE e Eletrobras, para desenvolver complexos eólicos.
O dirigente esteve ontem pela manhã em Porto Alegre participando do I Fórum e Exibição de Energias Renováveis e Alternativas no Cone Sul (Eracs 2011), que acontece no Centro de Eventos da Pucrs até amanhã. À tarde, Galain seguiu para Brasília para discutir com integrantes do Ministério de Minas e Energia brasileiro a questão da interconexão energética. Ele adianta que está prevista uma visita da presidente Dilma Rous-seff ao presidente do Uruguai, José Mujica, no dia 23 de maio, na qual o assunto voltará a ser abordado.
"É fundamental que os países não se tornem ilhas, mas que se comuniquem", defende Galain. O interesse na energia eólica é mais um fator que deve aproximar as duas nações. O secretário informa que atualmente o Uruguai conta com em torno de 70 MW de capacidade de geração eólica e esse número deve passar de 500 MW nos próximos quatro anos. O volume é expressivo, se considerar que o consumo médio de energia uruguaio hoje é de 1 mil MW.
Estado quer melhorar competitividade do setor eólico
Nos últimos anos, uma queixa constante pode ser percebida entre os investidores em energia eólica no Rio Grande do Sul: a concorrência desequilibrada com os complexos da região Nordeste, que contam com incentivos. O secretário-adjunto de Infraestrutura e Logística do Estado, Claudemir Bragagnolo, relata que a Secretaria da Fazenda está trabalhando em um projeto de benefícios a essa fonte, para melhorar a competitividade dos empreendimentos locais.
Bragagnolo afirma que o Estado pretende ser um facilitador dos empreendimentos envolvendo as fontes renováveis. Junto com as ações setoriais, o governo, através da sua estatal de energia, a CEEE, também deseja participar do mercado eólico. O presidente da companhia, Sérgio Dias, comenta que o grupo está analisando fazer associações com projetos que participarão de leilão eólico do governo federal, que ocorrerá em julho. Esses certames possibilitam a comercialização da energia a ser produzida. O Grupo CEEE adotou essa prática, como acionista minoritário, na expansão do parque eólico de Osório. Dias revela que a estatal já entrou em contato com algumas empresas para discutir a possibilidade. Futuramente, o Grupo CEEE pensa em concretizar, individualmente, outras usinas eólicas.
Dias e Bragagnolo estiveram ontem no I Fórum e Exibição de Energias Renováveis e Alternativas no Cone Sul (Eracs 2011) realizado pela Câmara de Comércio Brasil-Portugal/Rio Grande do Sul. O diretor-presidente da instituição, Joaquim Firmino, ressalta que o evento reúne representantes de companhias e de governos do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e de outros países. "Queremos mostrar que a região do Cone Sul apresenta um ótimo potencial de negócios quanto às fontes renováveis como a eólica, a solar e a de marés", enfatiza Firmino.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 12/05/2011)