Discutida desde 1977, a medição da quantidade e a qualificação dos poluentes na Grande Vitória mais uma vez deixou dúvidas entre os capixabas. Segundo o Inventário sobre a poluição apresentado pelo Iema, a poluição veicular é a maior responsável pela poluição na Grande Vitória, ainda que a cidade, que apresentou maior poluição atmosférica que São Paulo em 2008 e 2009, esteja longe de ter uma frota de carros maior do que a capital paulista.
Para os ambientalistas que participaram da apresentação do Inventário de Fontes da Grande Vitória, o resultado é intrigante.
Segundo a pesquisa apresentada pelo IBGE, em que foram analisadas as partículas totais em suspensão - (PTS); partículas inaláveis (PM10); dióxido de enxofre (SO2); dióxido de nitrogênio (NO2); ozônio (O3) e monóxido de carbono (CO), medidos em micrograma por metro cúbico (µg/m³), em Vitória, a partir de informações dos órgãos estaduais, a qualidade do ar de Vitória é inferior à qualidade do ar de São Paulo, o que, para os ambientalistas, “prova por A mais B” a forte participação das grandes indústrias na poluição da cidade.
Para eles, na prática, a informação divulgada à população de que Vitória apresenta emissões dentro dos níveis exigidos por lei demonstra que os limites aplicados no Estado estão desatualizados e que tal medição não exclui os riscos à saúde.
Segundo o Inventário, só a ArcelorMittal, por exemplo, é responsável pela emissão de 55,8% do dióxido de enxofre (SO2); 10,9% dos óxidos de nitrogênio (NOx) e 44,7% do monóxido de carbono (CO2) despejado no ar da Grande Vitória. Estas substâncias são tóxicas e capazes de provocar irritação e inflamação nas vias respiratórias, reduzirem a capacidade do sangue no transporte de oxigênio e de diminuir as defesas do organismo. Segundo a Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), ao todo, 59 tipos de gases tóxicos não identificados pelos órgãos ambientais são emitidos das chaminés das indústrias na Grande Vitória.
A Vale foi responsabiliza pela emissão de 36,9% da emissão de NOx; 4,4% do CO2 e 14,1% de SO2, segundo o inventário feito pelo governo do Estado.
Já em relação ao material particulado que chega às casas dos moradores da Grande Vitória e é motivo de consecutivas reclamações no setor de saúde devido ao aumento de doenças respiratórias na Grande Vitória, a Vale e a ArcelorMIttal foram deixadas de lado, apresentando uma participação de 15,8% (Vale) e 6,1% (ArcelorMittal), enquanto os veículos seriam os responsáveis por 68,2 % das emissões.
Segundo o inventário, a emissão de poeira por parte das indústrias corresponde a pouco mais de uma tonelada de poeira, das quatro lançadas a cada uma hora na Grande Vitória.
Entretanto, segundo o inventário da própria Vale, uma siderúrgica com capacidade de produção de 5 milhões de toneladas/ano é capaz de despejar 9,7 milhões de toneladas de CO2 no ar por ano. Em Tubarão, só a Vale (com o funcionamento da sua 8° usina) irá produzir 39 milhões de toneladas/ano. Já a ArcelorMittal, que produz atualmente 5,6 milhões de toneladas por ano, passará, após a sua expansão, a produzir 9,5 milhões de toneladas/ano.
Já a Belgo Mineração não é citada no Inventário feito pelo Iema. Mas, segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e Iema, em 2006, já na ocasião, a emissão destas empresas superava a capacidade da natureza de absorver tais elementos.
Segundo os ambientalistas, há dúvidas relativas ao Inventário, principalmente no que diz respeito à medição do material particulado, inclusive dos materiais particulados inferiores a 10 microgramas e 2,5 microgramas, já que até o ano passado a informação do órgão é de que não havia mecanismos de medir esta emissão pelas indústrias no Estado.
O próprio Iema afirmou, durante a apresentação do Inventário, que não existem parâmetros que permitam concluir se a quantidade de poeira emitida por cada uma das empresas e outros agentes é alta, já que ela pode se dispersar na atmosfera.
Outra dúvida diz respeito aos prazos do estudo, prometidos para meados de 2010, mas divulgados para a população apenas nessa terça-feira (10), após as emissões das licenças ambientais concedidas para os grandes empreendimentos no Estado. A demora e a ausência de informações sobre quais são os municípios mais afetados pela poluição também foram itens reclamados pela sociedade civil organizada.
Em Vitória, os índices de partículas totais em suspensão (PTS) e partículas inaláveis (PM10), nocivas à saúde humana e ao meio ambiente, em 2008, atingiram 717 mg/m³ de PTS e 669 mg/m³ de PM10, quando o padrão do Conama prevê de 240 e 150 mg/m³, respectivamente.
Neste contexto, Vitória ocupou em 2010 o título de cidade mais poluída do País, acima, portanto, de São Paulo, segundo os dados do Indicador de Desenvolvimento Sustentável do Brasil 2010, do IBGE.
Após o Inventário, a promessa do Iema é que será apresentado à população um estudo sobre o DNA do pó preto, mais grosso e encontrado em abundância nas casas da Grande Vitória. Entretanto, dados sobre as partículas respiráveis, consideradas mais agressivas à saúde humana, continuam sem prazo para serem classificados e quantificados. No caso das partículas PM10, com espessura cinco vezes menor que um fio de cabelo, a emissão é medida, porém o volume permitido no Estado através do Conama é de 30 microgramas, acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é 20.
O Inventário apresentado pelo Iema foi realizado pela empresa EcoSoft Consultoria e Softwares Ambientais, criada em 1995. Especialista em soluções ambientais e de gestão da qualidade, ela é a empresa que faz o monitoramento da qualidade do ar do Iema na Grande Vitória.
O órgão foi procurado para esclarecer as dúvidas levantadas pelos ambientalistas, mas não se manifestou.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 12/05/2011)