Além de reduzir o risco de contaminação do solo e da atmosfera, o novo aterro sanitário ainda vai gerar energia
Toneladas de lixo despejadas à margem da Baía de Guanabara e entregues à natureza — num jogo em que ela, a natureza, sai sempre perdendo. Em funcionamento há quase 35 anos, o Aterro de Gramacho, na Baixada Fluminense, é o retrato do desleixo ambiental, com rios de chorume vazando para o lençol freático, gases nocivos contaminando a atmosfera e urubus em profusão pondo em risco os voos do Aeroporto do Galeão.
Para completar o quadro, bem estampado nos documentários Estamira e Lixo Extraordinário, milhares de catadores atuam no local, formando um degradante formigueiro humano. Condenado há muito tempo pelos especialistas, o lixão, como é conhecido, está com os dias contados e deve encerrar suas atividades no próximo ano. Ele será paulatinamente substituído por um sistema moderno, inaugurado há duas semanas em Seropédica, na região metropolitana do Rio. A nova Central de Tratamento de Resíduos (CTR) é, digamos assim, uma lixeira "high-tech".
Ao custo de 400 milhões de reais e concentrado numa extensão de 2 quilômetros quadrados, equivalente à área do Leblon, o novo aterro sanitário tem dispositivos para impedir qualquer tipo de contaminação e é capaz de transformar o detrito em energia. "É a solução para um crime ambiental cometido há três décadas", afirma Carlos Roberto Osório, secretário municipal de Conservação.
A possibilidade de utilização de uma nova matriz energética é alvissareira. Nos Estados Unidos, o biogás, fluido resultante da decomposição de detritos, é visto como alternativa para diminuir a dependência do petróleo e a emissão de gases causadores do aquecimento global. Com essa tecnologia, uma das maiores empresas americanas do setor, a Waste Management, gera 550 megawatts por ano, luz suficiente para abastecer 440 000 residências. No Rio, a expectativa é que a nova central ajude a reduzir consideravelmente a quantidade de dióxido de carbono lançada no ar. "Vai ser como retirar das ruas 1,4 milhão de carros", acredita Adriana Filipetto, presidente da Ciclus, empresa responsável por operar o complexo.
Na cidade que lidera o ranking nacional de lixo produzido por habitante, matéria-prima não vai faltar.
(Veja Rio, 06/05/2011)