Relatório aponta nomes de vários membros da EFSA ligados ao ILSI, organização dos EUA fundada por multinacionais de agrotóxicos, substâncias químicas, sementes transgênicas e indústrias alimentícias.
Segundo um relatório recém divulgado, alguns dos membros da agência europeia responsável por regulamentar agrotóxicos e alimentos são próximos demais da indústria que eles deveriam policiar. Em março deste ano Angelo Moretto renunciou da comissão de Produtos para a Proteção de Plantas e seus Resíduos da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA PPR Panel), que avalia a segurança dos agrotóxicos, em seguida a revelações relativas a conflito de interesse. Moretto estava ligado a uma empresa de consultoria chamada Melete Srl., fundada para ajudar empresas a cumprir as determinações da agência europeia REACH, que regulamenta o uso de substâncias químicas.
O novo relatório, intitulado Reguladores europeus sobre agrotóxicos e segurança dos alimentos - para quem eles trabalham? (na tradução livre do inglês), revela que o conflito de interesse de Moretto com relação à Melete é apenas a ponta do iceberg. Moretto é apenas um dos vários membros da EFSA ligados ao ILSI (International Life Sciences Institute), uma organização dos EUA fundada por multinacionais de agrotóxicos, substâncias químicas, sementes transgênicas e indústrias alimentícias. Os patrocinadores do ILSI incluem a Monsanto, Basf, Bayer, ADM, Cargill, DuPont, Kraft, Mars, Syngenta e Unilever.
Claire Robinson, autora do relatório, diz que “o ILSI se dedica a redesenhar processos de avaliação de risco de agrotóxicos, substâncias químicas e alimentos transgênicos nos EUA e na Europa. A organização se apresenta como imparcial, mas suas recomendações científicas seguem a tendência de reduzir os custos e rigor dos testes de segurança. Isto atende bem à indústria, mas coloca a população em risco de saúde. O ILSI foi duramente criticado por grupos dos EUA, como o Natural Resources Defense Council (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais) e o United Steelworkers of America (organização de trabalhadores na indústria do aço) por afrouxar os padrões da regulamentação. E a organização está se esforçando para fazer o mesmo na Europa.”
O relatório aponta os nomes de vários membros da EFSA ligados ao ILSI. A presidente do conselho de administração da EFSA, Diana Banati, esteve nas manchetes no final do ano passado depois que foram reveladas suas ligações com a organização. De forma controversa, ela se desligou do ILSI mas manteve sua posição na EFSA.
Claire Robinson disse que “a EFSA está neste momento procurando novos consultores científicos e membros para o conselho de especialistas. Pedimos que a EFSA faça uma limpeza em seus quadros, retirando pessoas afiliadas ao ILSI e outras indústrias e substituindo-as por especialistas que reconheçam sua função de proteger a saúde da população e do meio ambiente, e não os interesses das indústrias.”
(AS-PTA/EcoAgência, 03/05/2011)