A Amazônia, com sua dimensão continental e singularidades, sempre despertou o interesse das artes para tentar decifrá-la. Objeto de estudo da ciência, motor de inspiração para a literatura, cenário e personagem para diversos filmes, a região ainda é foco de dezenas de documentários, e hoje duas equipes voltam suas lentes para um aspecto específico: as crenças e religiões.
O documentarista paraense Klemerson Pena tem trabalhado em uma série de vídeos sobre festas religiosas na Amazônia, reunindo material sobre as celebrações de 6 cidades, e prepara-se para lançar, em maio, o documentário “Borba: o santo padroeiro”. Por outro lado, os jovens diretores André Oliveira e César Nogueira estão em processo de filmagem de “Crenças na Amazônia”, filme documental que procurará retratar as mais diversas manifestações de fé na metrópole de Manaus.
Por rios
Klemerson Pena decidiu investir na carreira de documentarista após decepções com a carreira anterior, de jornalista. Assim, há 15 anos ele perambula pelos rios amazônicos acompanhando e registrando os mais diversos aspectos da região. Atualmente, Pena desenvolve uma série de documentários sobre as festas religiosas realizadas nas cidades amazônicas.
Mesmo com todo o material realizado sobre as festividades, ele garante que ainda faltam eventos que ele gostaria muito de acompanhar: “Eu gostaria muito de fazer documentários ainda sobre a Festa do Pescador, em Manaus, e da Nossa Senhora do Rosário, em Itacoatiara e, claro, o Círio de Nazaré, em Belém”.
Pena trabalha de forma independente, contando apenas com recursos próprios, e envolvendo sua família na produção. “Quem edita o material é a minha esposa, o meu filho, ainda com 7 anos, também nos acompanha nas viagens, porque faz parte da forma como eu trabalho. Eu morei 2 anos e meio em Borba para fazer o documentário”, revela Pena.
Crenças
Partindo para um universo ainda mais amplo, um grupo de jovens videomakers envereda por caminho semelhante. André Oliveira, Dyk Cardoso, César Nogueira e Wendrey Cardoso tiveram uma ideia inicial de falar sobre as religiões com o intuito de utilizar o material como forma de difundir um maior conhecimento sobre cada uma e estimular nos jovens à tolerância. Por isso, optaram por filmar aspectos das religiões monoteístas presentes na capital: catolicismo, islamismo e judaísmo, e as diversas manifestações religiosas politeístas, como os cultos afrobraisileiros e indígenas, e filosofias de vida como o budismo e o ateísmo.
Segundo Nogueira, o interesse dele pelas religiões passa principalmente por um olhar antropológico: “Eu acho o advento das religiões uma singularidade da cultura humana fantástica, por que é uma força capaz de fazer com que a pessoa se entregue e deixe guiar a própria vida”, declara. O documentário está sendo feito com recursos próprios e a equipe, que já se encontra na fase de filmagens, busca patrocínio para a continuidade do filme.
Folclore, festas e celebridade
Além do trabalho com as festas religiosas, Klemerson Pena trabalha também, em suas andanças, com outros aspectos da região. Tendo em seu currículo em torno de 20 filmes, Pena tem documentários sobre a Ciranda município de Humaitá, no Amazonas, sobre o Arraial Flor do Maracujá, em Porto Velho e sobre o cantor brega Wanderley Andrade.
“Acompanhamos o Wanderley em viagens entre Acre, Rondônia, Amazonas e Pará, onde ele conversou bastante conosco e realmente estimulou a gente a realizar esse documentário sobre a vida dele”, conta Pena.
No material, Wanderley Andrade conta detalhes de sua vida profissional e o processo que viveu para chegar a ser uma celebridade na região, tendo iniciado como porteiro em um hotel em Santarém, e desenvolvendo em paralelo sua carreira de cantor da noite, até a explosão de suas músicas no fim dos anos 90.
“Eu ainda não posso afirmar que o material sobre o Wanderley está finalizado, mas pretendo encontrar com ele novamente para dar continuidade a esse trabalho”, confessa Pena.
(A Crítica, 26/04/2011)