Depois dos tumultos que provocaram a paralisação das hidrelétricas de Jirau (3.450MW) e Santo Antonio (3.150MW), ambas em processo de implantação no Rio Madeira, em Rondônia, a grande pergunta que fica no mercado é se o ocorrido pode vir a afetar diretamente futuros empreendimentos, provocando assim, uma possível alta nos preços dos seguros e, consequentemente, inflacionando o preço da energia no País. Executivos do setor consultados pelo Jornal da Energia consentem na crença de que haverá mudanças nas políticas de seguros, mas não veem motivos para grandes preocupações.
O vice-presidente do Grupo J. Malucelli, Alexandre Malucelli, acredita que sem dúvida o mercado vai precificar ou restringir a cobertura de seguros desse tipo. "Eu não tenho dúvida de que esses incidentes serão levados em conta em novos projetos", afirma Malucelli. O executivo, porém, acredita que um impacto nos custos deve levar em conta também o dinamismo do setor. “O mercado está bastante competitivo. É um mercado vendedor, e não comprador, e por mais que as segudadoras queiram restringr ou repassar isso no preço, certamente você tem uma força contrária que equilibra a conta”.
O gerente da Divisão de Riscos de Engenharia da Liberty International Underwriters (LIU), e da divisão de Grandes Riscos da Liberty Seguros, Andre Guidette, confirma a previsão de Malucelli. “Há uma preocupação das seguradoras. Incidentes como os do Rio Madeira podem gerar prejuízos de até R$10 milhões em um canteiro”, estima Guidette.
Para Guidette, o problema maior está ligado a um possível atraso no cronograma devido aos incidentes, uma vez que a perda de receita decorrida de um sinistro como esse pode ser grande. “Isso com certeza vai influenciar no preço e nas condições do seguro, principalmente nos seguros tipos Garantia [ aqueles que a seguradora paga à Aneel as multas decorrentes de atraso]”, pondera.
O executivo da Liberty, porém, observa que alguns dos grandes investidores do setor hidrelétrico já estão atentos a esse aspecto. “Eles estão dando melhores condições para os empregados, treinando mão de obra local, evitando concentrar o canteiro de obra em um só lugar. Também estão instalando ar condicionado no alojamentos, revendo toda essa parte de conforto para os trabalhadores para evitar situações como as de Jirau e Santo Antonio”.
Para o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, tudo se trata apenas de um efeito cíclico comum de mercado. “Quando você tem alguns anos de bonança, ou seja, um período sem acontecimentos como esse, é normal haver um relaxamento sobre as preocupações. Então, em um cenário de tranquilidade, é normal que os preços fiquem mais baixos. O efeito é contrário quando ocorrem incidentes como o de Jirau e Santo Antonio. O preço fica mais caro,mas depois volta a abaixar", analisa.
Erik Rego concorda que haverá uma atenção maior para fatos como esse por parte das seguradoras, mas explica também que há outros fatores que barateiam o preço. “Isso não vai impactar no preço da energia. Dificulta um pouco mais, mas não chega a afetar de forma significativa” prevê o executivo.
(Jornal da Energia, 26/04/2011)