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sustentabilidade arquitetura sustentável eficiência energética
2011-04-20 | Matsubara

Os arquitetos João Caeiro e Fulvio Capurso, português e italiano respectivamente, levaram o Agri-tecture para Oaxaca, no México. Através deste trabalho pessoas da comunidade indígena de San Juan Mixtepec, principalmente mulheres, são capacitadas para ajudarem na construção de casas sustentáveis. 

Nos próximos meses, as mulheres de San Juan Mixtepec continuarão a trabalhar com a dupla de arquitetos para completar a primeira das 20 casas eficientes em recursos e energia. Os dois dedicam-se especialmente ao trabalho e formação junto das comunidades rurais, tendo vindo a desenvolver projetos sustentáveis e pesquisa direcionada para a construção com materiais locais, especializando-se em terra e em bambu. Este programa de treinamento e protótipo será a fundação para uma estrutura sustentável, social e empresarial para a comunidade.

O local escolhido foi uma aldeia indígena, no Estado de Oaxaca, no México, onde 60% dos homens (principalmente os jovens e chefes de família) emigram, principalmente para os Estados Unidos sendo que 84,5% não retornam.

Esta região é considerada uma das mais pobres do país e necessita particularmente de iniciativas como esta. Por isso, foi criada uma estratégia que permitirá que depois a técnica seja repassada para outras pessoas em diversas regiões do México e até mesmo em outros países.

Em San Juan Mixtepec as casas ainda têm pequenas áreas em condições básicas, muitas vezes sem utilidades, que servem a várias pessoas. Cerca de 68%, só têm um quarto; 59% das casas têm um piso de terra e 68% não têm equipamentos modernos.

Há  20 anos, o arquiteto Juan José Santibañez começou o seu trabalho com a comunidade. Vinte anos depois, ele uniu forças com os jovens arquitetos, “agri-tects” e estudantes para começar um novo ciclo de construção, chamado “Adobe para Mulheres”.

O objetivo do projeto é ajudar a construir 20 casas sustentáveis no povoado indígena e destiná-las a 20 mulheres em circunstâncias difíceis, que participam com o seu trabalho no processo de construção. Desta forma, apropriam-se pouco a pouco da sua futura morada e reencontram a auto-estima, a capacidade de trabalho e a esperança que lhes permitirão transformá-las em espaços seguros para as suas famílias. Estas mulheres continuam a lutar por um lugar na sociedade e uma melhoria de vida, num Estado que tem o 3º maior índice de analfabetismo do país.  De fato, mais de 80% da população feminina continua, ou sem saber ler e escrever, ou a ter o ensino básico incompleto.

As casas são eficientes energeticamente e construídas com materiais locais, como o tijolo artesanal e o bambu.  Cada casa custa apenas 3.830,84 euros (o preço de meio metro quadrado de um apartamento em Paris ou Amsterdã, um metro quadrado nas capitais bálticas ou dois metros quadrados nas cidades europeias mais econômicas).

Estas mulheres lutaram toda a vida pelos seus filhos e pela sua dignidade. Com o trabalho da Associação e com a contribuição da sociedade, continuarão a fazê-lo em suas próprias casas.

A casa, de planta simples e retangular, é formada por dois núcleos: um privado e um público. Cada um dos núcleos é formado por dois arcos que se encontram ao centro, aumentando assim a noção de espaço e marcando as atividades a desenvolver em cada área permitindo espaços amplos apesar da reduzida área total.

O alpendre apresenta-se como um prolongamento da casa, estando diretamente ligado à cozinha. É suportado por uma estrutura de madeira revestida por caninha, disposta espaçadamente de modo a tornar as paredes translúcidas. O alpendre abre-se assim para a natureza vibrante envolvente, constituindo um espaço privilegiado de convívio.
As vantagens econômicas do projeto são a otimização de recursos; as ecológicas são a utilização de materiais regionais e biodegradáveis; a social, fortalece o trabalho comunitário e a cultural, integra-se com as casas tradicionais e fomenta o conhecimento regional.

De modo a aproveitar-se ao máximo a energia solar, pequenos painéis solares serão instalados para converter a energia da luz do sol em energia elétrica. Através de um depósito de água, também será possível recolher as águas da chuva, além de filtros de águas cinzentas, feito com cascalho, plantas e carvão, para a rega da horta. Para o banheiro, o sistema adotado é o banheiro seco que não necessita água ou sistema de esgoto. Toda a urina e fezes são coletadas e armazenadas em uma câmara e transformadas em produtos para nutrir o solo. Matérias orgânicas como papel, restos de comida e folhas também são usados no processo de compostagem.

Outra maneira de economizar recursos e energias é pelo tipo de fogão escolhido denominado “Estufa Lorena”. O artefato artesanal utiliza menos madeira para cozinhar. Basicamente consiste em uma caixa fechada de lama e areia com uma chaminé. A lenha é colocada no interior da caixa, e através do fumo a comida é aquecida. Este sistema permite reduzir o consumo de lenha até 60% e melhorar a qualidade do ar interior da cozinha.

A “Adobe para Mulheres” é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2011, cujo objetivo é a recuperação e ensino de técnicas de construção em terra; esta é a contribuição para uma utilização mais humana e sustentável do espaço e dos recursos do planeta.

(Ciclo Vivo, 20/04/2011)


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