O domingo já anoitecia quando um estrondo assustou uma família que mora à beira dos trilhos, na localidade de Rincão dos Baldissera, em Restinga Seca. Acostumados com o ruído dos trens, os moradores perceberam que o barulho, desta vez, era diferente. Poucos minutos depois, dois maquinistas bateram à porta e pediram socorro. Duas locomotivas e quatro vagões, três deles carregados com óleo diesel, haviam tombado. A partir daí, começou a corrida contra o tempo para estancar o vazamento de 40 mil litros de combustível.
O acidente ocorreu por volta das 19h. Um dos maquinistas sofreu ferimentos leves. Cerca de uma hora depois, equipes da América Latina Logística (ALL) começaram a chegar ao local para avaliar os danos. O temor dos operários era de que o combustível vazasse. O pior foi confirmado pouco depois: um dos vagões jorrava óleo diesel. O líquido inflamável escorria por um terreno inclinado, em meio ao mato e à vegetação, em direção a uma lavoura de arroz e a um corredor de água. Dezenas de técnicos dividiram os trabalhos de contenção do óleo para evitar que o líquido atingisse esses locais.
Quatro operários correram com pás até a beira da lavoura para abrir um buraco e conter o combustível. – O barulho que a gente escuta vem daqui, (o óleo diesel) está borbulhando aqui – disse um dos técnicos que tentava achar o vazamento no vagão.
O reforço de máquinas começou a chegar a partir das 22h, quando uma retroescavadeira passou a escavar valetas. Os operários abriram piscinas no solo para represar o diesel e removê-lo com caminhões-tanque.
Ontem, a ALL contabilizou que foram preservados apenas 5 mil dos 45 mil litros de diesel que estavam na composição. Os quatro vagões tombados foram removidos ainda ontem e, às 18h, o trânsito de trens estava liberado. As duas locomotivas devem ser removidas hoje.
As causas do descarrilamento ainda são desconhecidas. A ALL irá verificar o conteúdo de um equipamento semelhante a uma caixa preta de avião, que grava o histórico da viagem, para buscar pistas.
– Normalmente, não tem uma causa só. Chegamos aqui e não encontramos nada que pudesse ter provocado o acidente – explica o gerente da ALL no Rio Grande do Sul, Roberto Fischer.
Danos à natureza – A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) chegou a Restinga Seca na tarde de ontem. Dois fiscais começaram a avaliar os danos causados ao ambiente. Segundo o geólogo da Fepam José Ricardo Samberg, 800 metros quadrados de área foram atingidos. O solo, a água que estava na terra e a vegetação foram banhados pelo óleo.
– Vamos concluir o levantamento e, com certeza, a ALL será penalizada – diz o geólogo.
A Fepam deve retornar ao local hoje. A área atingida deverá ser monitorada e passar por avaliações por, pelo menos, dois anos.
A família que mora à beira dos trilhos vive há um ano no local e ficou assustada com o episódio.
– Fiquei com medo que incendiasse, porque o trem caiu do lado da casa – conta Zilda Vieira, 39 anos.
(Diário de Santa Maria, 19/04/2011)