A jornada de lutas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), batizada pelo movimento de “Abril Vermelho”, completou 17 dias nesta segunda-feira (18) com ocupações de mais de 70 fazendas e 13 sedes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em 17 Estados e no Distrito Federal. As atividades da jornada de lutas mobilizou cerca de 18 mil famílias, segundo o setor de comunicação do MST.
Além das ocupações, os manifestantes do MST realizaram atos, debates, marchas e bloquearam estradas. Os sem-terra reivindicam o assentamento de 100 mil famílias acampadas pelo país; a criação, por parte do governo federal, de um plano de metas de assentamentos até 2014; ampliação do crédito rural aos assentados e a renegociação de dívidas; e o investimento público em infraestrutura em áreas da reforma agrária-- construção de casas, escolas, hospitais, implementação de saneamento básico e criação de agroindústrias.
Há também reivindicações específicas em cada Estado. Além das exigências, o MST organiza o Abril Vermelho para relembrar o massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 sem-terra foram mortos pela Polícia Militar do Pará em 17 de abril de 1996.
O movimento também aproveita a data para fazer campanhas contra o uso de agrotóxicos nos alimentos --que, segundo o MST, envenenam a população brasileira-- e para defender a agricultura familiar, em detrimento do agronegócio. Os sem-terra fazem propaganda contra a aprovação do novo código florestal e pelo fim do desmatamento.
Na quarta-feira passada (13), representantes do MST se reuniram com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que se comprometeu a dar uma resposta às demandas dos sem-terra até o dia 2 de maio, segundo o movimento. Na semana passada, houve reuniões também entre o MST e os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Educação.
Veja abaixo as ações realizadas nos Estados:
Nordeste:
Alagoas
Desde quinta-feira (14), cerca de mil famílias estão promovendo ações em todo o Estado. A BR-101 foi bloqueada nos municípios de Joaquim Gomes e Junqueiro. A agência do Banco do Brasil de São Luiz do Quitunde está ocupada pelos agricultores da região, de acordo com o MST.
Bahia
Cerca de 3.000 famílias estão acampadas na Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri) de Salvador desde segunda-feira (11). Anteriormente, os sem terra ocuparam o Incra. O MST exige o assentamento de 25 mil famílias no Estado, além da construção de escolas, postos de saúde e ampliação do crédito agrícola. Desde o início do mês, 36 fazendas foram ocupadas na Bahia, envolvendo mais de 10 mil famílias, segundo o movimento.
Ceará
O MST mantém ocupadas as sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, do governo do Ceará, em Fortaleza. Os protestos mobilizam 800 famílias desde segunda-feira (11) e cobram a realização da Reforma Agrária e políticas de desenvolvimento dos assentamentos. Foram realizadas também quatro ocupações de terra no interior do Ceará. O MST reivindica uma audiência com o governador Cid Gomes (PSB).
Maranhão
Na quinta-feira passada (14), cerca de 400 trabalhadores ocuparam as sedes do Incra em Imperatriz e São Luiz e permanecem no local até que as negociações avancem.
Paraíba
Desde o último dia 10, cerca de mil famílias participam das mobilizações no Estado, Na manhã da terça-feira passada (12), os sem-terra acamparam na sede do Incra, em João Pessoa. As famílias reivindicam o assentamento das famílias acampadas e políticas públicas para os assentamentos.
Pernambuco
O MST ocupou mais oito fazendas em vários municípios pernambucanos, somando nove áreas ocupadas no Estado, com a mobilização de 2.000 famílias. Foram realizadas ocupações em propriedades nos municípios de São Bento do Una, Altinho, Igarassu, Joaquim Nabuco, Itambé, Sertânia, Petrolina, Granito e Inajá.
De acordo com o Incra de Pernambuco, 57% dos latifúndios cadastrados no órgão são improdutivos, o que dá um total de 411.657 hectares de terras improdutivas no Estado. Essa área é suficiente para assentar as 23.000 famílias que vivem hoje acampadas em todo o Estado, segundo o MST.
Sergipe
Cerca de 300 famílias acamparam em frente ao Incra em Aracaju na quarta-feira (13). As famílias reivindicam a uma audiência pública com a Secretaria de Estado da Agricultura e com a superintendência do Incra para pautar agilidade nos processos de desapropriação da fazenda Tingui ocupada há 14 anos por 230 famílias sem-terra. Os manifestantes exigem também a liberação imediata de dois lotes empresariais para as 89 famílias.
Sudeste:
Rio de Janeiro
Cerca de 400 famílias ocuparam a sede do Incra na capital na última quinta-feira (14). No mesmo dia, pela manhã, o MST foi homenageado com a maior comenda do Estado do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes.
São Paulo
Cerca de 280 famílias ocuparam a fazenda São Domingos 1, em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema, na manhã da última sexta-feira (15). A ocupação tem como principais reivindicações a criação de um projeto de assentamento na área. Em uma área próxima ao município de Orlândia, na região de Ribeirão Preto, cerca de 30 famílias do MST acamparam nas margens da rodovia do Rosário, na manhã de quinta-feira. A área é um território da União que pertencia à antiga rede de ferrovias da Ferrovia Paulista SA (Fepasa).
Na terça (12), mais de 200 famílias do MST distribuíram cerca de uma tonelada de alimentos para as pessoas que passavam pela praça do Palácio do Rio Branco, sede da prefeitura de Ribeirão Preto. Os alimentos foram produzidos sem a utilização de agrotóxicos, segundo o movimento nos assentamentos Mário Lago, em Ribeirão Preto, e do Sepé Tiarajú, de Serrana.
Sul:
Paraná
O MST realizou um ciclo de audiências públicas para discutir o desenvolvimento em áreas de reforma agrária no norte e centro-oeste do Paraná na quinta-feira passada (14).
Rio Grande do Sul
Cerca de 500 assentados ocupam o Incra desde terça-feira (12) em Porto Alegre e permanecem no local por tempo indeterminado. À tarde, as famílias iniciaram as negociações com o governo estadual para tratar da pauta de reivindicações que foi entregue em fevereiro. Foi ocupada também a fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul. Os sem-terra já saíram da fazenda depois de um diálogo com o governo de Tarso Genro (PT).
Santa Catarina
O MST realizou duas ocupações na quinta-feira passada, na fazenda Xaxim 1, localizada no município de Curitibanos, com 150 famílias; e da fazenda Batatais, com 100 famílias, em Mafra. Militantes ainda tiveram audiências com o Incra do Estado para levar as reivindicações das famílias.
Centro-Oeste:
Distrito Federal
Mais de 300 famílias organizadas pelo MST ocuparam a "Reserva D", do núcleo rural Alexandre Gusmão, em Brazlândia (DF) na quinta-feira passada (14). A área --improdutiva, segundo o movimento-- tem 4.000 hectares e pertence ao Incra desde 1962. Também na quinta (14), cerca de 200 famílias ocuparam a sede do instituto em Brasília.
Goiás
Desde o último dia 10, cerca de 800 famílias ocupam a sede do Incra em Goiânia, informa o MST.
Mato Grosso
Desde a segunda passada (11), mais de 300 famílias MST estão acampadas no Trevo do Lagarto, na saída de Várzea Grande, reivindicando legalização de assentamento no Estado e melhoria na estrutura nos locais já assentados. Na mesma manhã, os sem-terra interromperam o tráfego nas BR 364 e 163, liberando-as após o inicio do diálogo, segundo o MST.
Norte:
Pará
Entre os dias 10 a 17 de abril, o MST realizou a “Semana Nacional de Luta Camponesa e Reforma Agrária” no Pará, para celebrar os 15 anos do Assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás, e relembrar os 15 anos do massacre. Atos políticos e culturais foram realizados no assentamento e no espaço do monumento na “Curva do S”, palco do massacre. Os sem-terra exigem que os responsáveis pelo massacre sejam presos.
A juventude do MST Os militantes também organizou um acampamento pedagógico que envolveu 1.000 jovens de acampamentos e assentamentos de várias regiões.
Rondônia
Na quarta-feira passada (13), 500 famílias do MST ocuparam a sede de unidade avançada do Incra em Ji-Paraná, em Rondônia. O protesto cobra agilidade do governo federal no assentamento das famílias acampadas em todo o Brasil e também medidas para o desenvolvimento dos assentamentos, com a construção de escolas, estradas, poços artesianos e instalação de energia elétrica.
(UOL, 18/04/2011)