O Serviço Jesuíta para Refugiados e Migrantes (SJRM) da América Latina e Caribe denunciou na semana passada que os migrantes haitianos estão sendo vítimas das redes criminosas de exploração e tráfico de pessoas. Segundo a organização religiosa, os criminosos aproveitam a vulnerabilidade da população haitiana que sai em busca de melhores condições de vida, depois que o Haiti ficou devastado com o terremoto de janeiro do ano passado.
As denúncias feitas relatam que os traficantes enganam os/as migrantes com falsas promessas de estudo e cobram preços altos pelas viagens, mas assim que chegam ao destino a realidade muda, já que os migrantes ficam presos e são obrigados a exercerem trabalhos forçados, que vão desde serviços domésticos até a prostituição.
De acordo com o SJRM, os haitianos costumam ir, na maioria das vezes, para o Equador ou Chile, mas países como Guiana Francesa, Brasil e Estados Unidos também são alvos dos migrantes, que passam ainda pelo Peru, Argentina, Colômbia, Bolívia e Venezuela. A República Dominicana e Cuba são países que servem de trânsito para os criminosos transportarem as pessoas traficadas.
Dados apresentados pela Direção Nacional da Polícia de Migração do Equador deram uma dimensão do aumento da migração dos haitianos. Em 2009, por exemplo, 1.258 haitianos entraram no país, enquanto no ano seguinte o número aumento para 1.867 migrantes. Apenas no primeiro trimestre deste ano, o número de refugiados do Haiti para o Equador é de 1.112.
Já o Serviço Nacional de Turismo do Chile, informou que 477 haitianos entraram no país em 2009, enquanto que em 2010 o número passou para 820. Em janeiro deste ano, 125 haitianos já tinham ingressado no Chile.
No último dia 31 de março, a Organização das Nações Unidas (ONU) também alertou sobre o aumento nos casos de tráfico de menores haitianos para países vizinhos, em especial para a República Dominicana. Segundo os dados apresentados, de 11.774 crianças que foram fiscalizadas na fronteira do país, mais de 2.500 não tinham documentos legais e 459 foram identificadas como vítimas do tráfico humano.
Wooldy Edson Louidor, do Serviço Jesuíta, explicou que há cerca de três anos que a América do Sul se converteu em um novo pólo de migração para a população haitiana. E que justamente, pelo aumento deste fluxo é que se intensificaram as atividades criminosas do tráfico de pessoas.
Devido ao aumento da migração haitiana para a América do Sul, alguns países como Guiana Francesa e Brasil fecharam suas fronteiras para a população haitiana. O governo brasileiro, que impede a entrada de haitianos em seu território desde 15 de fevereiro, explicou que os migrantes deste país não têm direito ao refúgio já que não sofrem perseguição política, religiosa ou discriminação.
Por causa da decisão do Brasil, o distrito de Iñapari no Peru, que faz fronteira com o estado brasileiro do Acre, está abrigando cerca de cem migrantes haitianos há mais de um mês, causando um 'transtorno' para o prefeito da província de Tahuamani, Celso Curi Paucarmaita, que disse que os recursos para mantê-los estão se acabando. Segundo ele, os migrantes apenas podem utilizar o território peruano como passagem para chegar até o Brasil ou Guiana Francesa. Já o governo equatoriano assegurou que não vai deportar os haitianos considerando a situação precária do Haiti.
Com esta situação, o Serviço Jesuíta alertou os governos da região a traçarem estratégias para proteger os migrantes, investigar e condenar aliciadores e traficantes. A organização religiosa também destacou a necessidade de os países oferecerem proteção e ajuda humanitária aos haitianos, já que eles saem de um país devastado pelo terremoto de 12 de janeiro do ano passado, cujo território ainda está desestruturado e com condições precárias.
(Adital, 15/04/2011, com informações da Prensa Latina e do SJRM)