A construção de um aterro para abertura de uma rua está revoltando moradores do bairro Jardim Itália. Eles alegam que lixo orgânico, entulhos, lama e outros materiais que seriam inadequados para esse tipo de obra estão sendo despejados no terreno, inclusive, destruindo uma área verde. O Pioneiro levou um geólogo ao local e ele afirmou que a intervenção apresenta problemas, podendo oferecer risco de desmoronamento, o que reforça o alerta dos moradores.
A obra, segundo o secretário do Meio Ambiente, Adelino Teles, faz parte de um projeto de ligação da Rua Luiza Pistore Mari, no Jardim Itália, com a Rua Paulo Cagliari, no loteamento Santo André. Conforme Teles, o aterro é necessário porque o novo acesso passará por onde hoje há um barranco, com pelo menos 100 metros de declive. Para a rua ser feita e ser pavimentada, é preciso fazer, além do aterramento, terraplenagem, canalização pluvial e drenagem do terreno. Para evitar desmoronamentos, está prevista a construção de muro de contenção.
Mas a forma com que o aterro está sendo feito intriga moradores.
– Há entulhos, pneus, madeira, plástico, asfalto e até vísceras de animais – reclama o aposentado Hélio Quevedo, 58 anos, da Rua Luiza Pistore Mari.
Segundo o morador, caminhões da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) descarregam o lixo e, em seguida, um caminhão da Secretaria de Obras e Serviços Públicos cobre com terra. Em 29 de março, o Pioneiro flagrou o Cargo placas INQ-8616, que no Detran consta como sendo da prefeitura, deixando lama no terreno.
– Além de depositarem lixo no aterro, os caminhões estão colocando entulhos diretamente em cima da mata nativa – protesta o também aposentado Hugo Rambazzo.
Ele destaca que derrubaram pelo menos 20 araucárias, espécies na tivas e protegidas por lei. No entanto, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) liberou o corte dos pinheiros e outras espécies.
Geólogo e aposentado alertam sobre riscos
Acompanhado de um especialista em estudo de terras, o Pioneiro foi conferir o aterro. Geólogo há 30 anos e ex-diretor da Companhia Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), Abrelino Frizzo se surpreendeu ao ver na área restos de construção, asfalto e materiais orgânicos, pneus, sofás, pedaços de carpete, telhas e faixas plásticas, entre outros materiais.
– Isso é uma loucura. É uma obra incoerente. Esta área deveria ser preservada, pois o local serve de escoamento da umidade que converge do barranco que está sendo aterrado – alerta o geólogo.
Independentemente do lixo que está sendo colocado, continua explicando o especialista, uma obra como essa do Jardim Itália jamais deveria ser liberada:
– Qualquer projeto de licenciamento nesta área deveria ser vetado. Se você fizer metade disto no seu terreno leva uma multa enorme da Secretaria de Meio Ambiente – compara Frizzo.
O aposentado Hélio Quevedo, que diz ter trabalhado na demarcação de lotes quando o bairro estava sendo criado, destacou sobre o barranco:
– Tem mais de 120 metros de desnível. SE houve uma erosão, a terra pode atingir o bairro Reolon, que é logo abaixo do barranco. Se chover muito, os moradores ficarão em uma situação de risco.
A avaliação do aposentado é confirmada pelo geólogo:
– Se chover muito no inverno, isso aqui vai desmoronar.
No pé do barranco fica a Rua Luiz Covolan, porta de entrada do bairro Reolon.
(O Pioneiro, 14/04/2011)