Com mais de três décadas de Odebrecht, o diretor-superintendente responsável pela usina hidrelétrica de Santo Antônio, José Bonifácio Pinto Junior, pediu demissão da empresa na sexta-feira. Boni, como é conhecido no mercado, foi o engenheiro da construtora que liderou, junto com engenheiros de Furnas, os estudos de viabilidade das usinas do rio Madeira, que hoje são as duas maiores obras em execução no país. O executivo esteve à frente da obra desde seu início e mais recentemente foi quem liderou as negociações com os líderes de 16 mil trabalhadores, da obra de Santo Antônio, para que retomassem as atividades depois de uma paralisação que se seguiu na esteira dos conflitos de Jirau.
Há alguns meses, o relacionamento de Bonifácio com o presidente da Odebrecht Energia, Henrique Valladares, vinha se desgastando. Estava acertada, inclusive, a saída de Bonifácio da área de energia para uma das diretorias da ETH Bioenergia, empresa do grupo Odebrecht na área de etanol e açúcar. A transferência ainda não tinha se concretizado em função dos conflitos de trabalhadores nas usinas em Porto Velho. Mas na semana passada, segundo relatam amigos do engenheiro, a situação ficou insustentável e chegou-se a conclusão que os dois não poderiam ficar na mesma empresa. Bonifácio, então, pediu demissão.
Entre seus pares, concorrentes e amigos, o engenheiro era tido como uma pessoa de personalidade forte, bastante emocional, um duro negociador e altamente identificado com a construtora. O executivo deve tirar férias e só depois decidir seus novos rumos profissionais. A Odebrecht informou que não faria comentários sobre o caso, mas algumas fontes a par das negociações em torno da substituição de Bonifácio informam que um executivo expatriado da empresa deve retornar ao Brasil para assumir o cargo. A usina de Santo Antônio, obra feita em parceria com a Andrade Gutierrez, deverá ser assumida integralmente pelo engenheiro Mário Lúcio Pinheiro, atual diretor de contrato da obra.
Bonifácio tinha em suas mãos a liderança de um dos maiores projetos de energia na história da construtora Odebrecht. A usina também foi o primeiro grande empreendimento da empresa como investidora do setor. As duas atividades, de construção e investimentos em energia, estão sob o guarda-chuva de Henrique Valladares, que na hierarquia de comando era seguido por Bonifácio e Antônio Roque.
Bonifácio não é o primeiro executivo da Odebrecht a deixar o projeto Santo Antônio. O ex-presidente da concessionária, Roberto Simões, está hoje na área de defesa. O diretor financeiro, Rogério Ibrahin, também deixou a Odebrecht Energia para assumir outras responsabilidades no conglomerado. Irineu Meirelles, que era o executivo do projeto na época da disputa pública travada com a GDF Suez, deixou o empreendimento há três anos. O projeto Santo Antônio foi marcado pela agressividade com que a Odebrecht foi ao leilão e pela própria disputa com a Suez em torno de Jirau. Desde a saída de Meirelles, Bonifácio era o principal porta voz do empreendimento.
(Valor Econômico, 13042011)