Na semana em que a presidenta Dilma Rousseff visita a China em uma viagem que traçará o rumo da relação do Brasil com o país asiático nos próximos anos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresenta um estudo que aponta que essa relação bilateral pode representar problemas para a economia e para os recursos naturais brasileiros em longo prazo.
O documento “As Relações Bilaterais Brasil-China: A Ascensão da China no Sistema Mundial e os Desafios para o Brasil”, o segundo de três estudos da instituição relacionados à China, foi apresentado na sexta-feira, 8 de abril, pelo economista Eduardo Costa Pinto.
Ele destacou que a China é o maior comprador de produtos brasileiros desde 2009 e, ainda este ano, deve ultrapassar os Estados Unidos também como vendedor para o mercado brasileiro. “Foi muito bom que o comércio Brasil-China tenha deslanchado na última década, mas devemos lembrar também que o comércio é apenas a ponta do iceberg nas relações bilaterais”, disse o economista.
Costa Pinto destacou um fator que pode representar problemas para a economia brasileira. Como o forte das exportações do Brasil tem sido as commodities (produtos básicos com cotação internacional), especialmente minérios e alimentos agropecuários, o economista argumenta que essa concentração não é desejável. E pergunta: “em caso de exaustão desses recursos primários, o que o Brasil vai fazer?”
Segundo o estudo, embora a China tenha crescido 10% ao ano, em média, nos últimos dez anos, tem como grande limitação da expansão a questão ambiental, e vai atrás dos países que podem suprir suas necessidades, como o Brasil. Tanto que, além de comprar recursos naturais, os chineses também investem na aquisição ou na associação com empresas brasileiras para controlar as explorações, principalmente de minerais.
Costa Pinto disse que só no ano passado os chineses investiram mais de US$ 15 bilhões em nosso País, a maior parte no controle de exploração de minério de ferro em duas jazidas de Minas Gerais, bem como nas áreas de petróleo e siderurgia no Rio de Janeiro. Mas existe também uma preocupação adicional de setores da sociedade brasileira, que é a compra de vastas áreas de terras agricultáveis na Bahia e em Goiás.
Ele enfatizou que a dinâmica comercial e financeira entre os dois países “traz oportunidades para o Brasil no curto e médio prazos, mas se não forem bem aproveitadas poderão representar ameaças no longo prazo”. Citou a perda de participação de nossas exportações para outros competidores, perda do controle estratégico sobre fontes de energia, principalmente petróleo, e de recursos naturais, como terras e minas, que podem acarretar em “aumento da vulnerabilidade externa estrutural”.
Segundo ele, o Brasil tem que avançar em três pontos fundamentais:
• Melhorar os instrumentos de regulamentação, regulação e fiscalização da compra de terras e de recursos naturais pelos chineses;
• Utilizar mais ativamente os instrumentos disponíveis de defesa comercial no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC);
• Negociar com o governo chinês condições isonômicas para a entrada e operação de empresas brasileiras em setores restritos a empresas chinesas.
Em sua viagem à China, Dilma Rousseff deve assinar cerca de 20 acordos comerciais nas áreas de tecnologia, agricultura, esporte, educação e comércio. Segundo a embaixada brasileira, o principal objetivo é diversificar as exportações e reforçar a reciprocidade entre os países.
*Publicado originalmente no site EcoD.
(Envolverde, 13042011)