Os operários da usina Jirau, em Rondônia, voltaram às atividades na manhã desta segunda-feira, após 26 dias da revolta que tomou conta do canteiro de obras, escancarou a precarização imposta pelo consórcio Enersus (Energia Sustentável do Brasil) e culminou com uma determinação do Ministério do Trabalho para suspensão da construção da hidrelétrica.
Antes de retornarem, porém, cerca de 4 mil trabalhadores participaram de uma assembleia diante de Jirau que referendou a proposta costurada por CUT, Conticom (Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e Madeira) e Sticcero (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia) para resolver problemas emergenciais e abrir um canal de negociação.
O acordo já havia sido aprovado no último dia 4 pelos operários da hidrelétrica Santo Antonio e determinado o fim da greve ao estabelecer os seguintes pontos: 5% de antecipação salarial; aumento de R$ 132,00 no valor da cesta básica; licença (baixada) de cinco dias a cada três meses trabalhados, com direito a passagem de avião até as capitais, sendo completado o trecho rodoviário quando necessário; avaliação para alteração da empresa que fornece o Big Card, uma espécie de vale alimentação; opção de mais de um plano de saúde, com cobertura nacional, para o trabalhadores escolherem.
Além desses itens, a negociação estabeleceu ainda um abono equivalente a 50 horas do salário para os trabalhadores que permaneceram alojados e para aqueles que realizaram serviços de manutenção no canteiro entre os dias 18 e 31 de março, período em que a usina permaneceu prada por conta dos conflitos no dia 15.
Para o secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, o retorno pode ser termporário, caso as empreiteiras não demonstrem flexibilidade. “Voltaremos ao confronto se não houve disposição em negociar melhoras nas condições de trabalho”, disse.
O dirigente comentou também o Acordo Coletivo Nacional da Construção Civil, que a a Central negocia em Brasília com o governo e entidades patronais do setor. “Queremos um protocolo com regras para definir condições de contratação, alojamento, folga para retorno ao lar, jornada de trabalho pagamento de horas extras”, citou.
Um novo sindicato
Presidente do Sticcero, Raimundo da Costa, o Toco, lembrou a mudança no diálogo com os trabalhadores a partir do momento em que o sindicato mudou de mãos e se tornou cutista. “Hoje, tudo o que negociamos trazemos para vocês. Desde 2009, quando assumimos, numa época em que o sindicato fechava acordo de 2 anos sem passar por assembleia e sem a nossa presença, o Sticcero ganhou vida. Agora, para ser mais forte e ter a representação que a empresa não quer ver, precisamos da ajuda de vocês, participando da rotina dessa que é a nossa casa”, ressaltou.
Também presente na assembleia, o deputado federal Padre Tom (PT-RO) analisou a importância das manifestações nas hidrelétricas para promover o crescimento com distribuição de renda. “Para o Brasil ser um país justo tem que tratar o trabalhador com justiça. Estivamos semana passada com a presidenta Dilma e ela está muito preocupada com a situação aqui”, informou.
Encontro com o ministro
Pouco após o encerramento da atividade com os operários, o ministro do Trabalho, Carlos Luppi, chegou a Jirau em um helicóptero do Exército para visitar o canteiro. A seguir, ele partiu para inspecionar a construção de Santo Antônio, acompanhado por Vagner Freitas, que relatou o desrespeito aos direitos trabalhistas constados por CUT, Conticom e Sticcero.
No final da tarde, Luppi participaria de uma reunião fechada com a comissão cutista para discutirão soluções em relação aos problemas nos canteiros.
(Instituto Humanitas Unisinos, 12/04/2011)