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acidente nuclear política nuclear desastre de chernobyl
2011-04-11 | Mariano

Todos já sabem. O que acontece hoje no Japão irá definir o destino da energia nuclear no mundo. Falta dizer como e quando que essa “crise” vai acabar, quais as saídas possíveis, sem falar no tamanho real do passivo que deixará.

Um mês após a primeira explosão, raras informações críveis dão a dimensão da importância e da gravidade do acidente na central nuclear Fukushima Daichi 1. Se os heróis que tentam controlar os quatro reatores com problemas tiverem sucesso, a indústria nuclear poderá respirar, mais ou menos, aliviada. Se não conseguirem, só restarão dois caminhos já conhecidos e testados: o sarcófago ou o mar.

Problema em andamento
"Não há como acreditar em nada do que o governo japonês fala", decreta o jornalista Tomi Mori, correspondente em Tóquio do portal “Esquerda.net” de Portugal. Uma das vozes dissidentes na imprensa até agora, ele faz coro com moradores e especialistas locais.

Em entrevista publicada no último dia 22/03 pela newsletter Counterpunch (Contragolpe), o especialista em energia nuclear, Hirose Takashi, já afirmara: “Se eu fosse o primeiro-ministro Kan, mandaria fazer o que a União Soviética fez quando o reator de Chernobyl explodiu: enterrar tudo sob cimento num sarcófago”.

Para Takashi, essa seria uma solução menos arriscada, pois já foi testada, e garante em princípio que a fuga de radiação seja reduzida ao mínimo. “Se apenas um dos reatores evoluir para o pior, será uma questão de tempo para os outros cinco também caírem. Não podemos adivinhar em que ordem, mas com certeza todos eles cairão”, acredita ele, reiterando que o risco de colapso em pelo menos um dos reatores é real.

A hipótese é confirmada por um documento da Comissão de Regulação Nuclear dos Estados Unidos (NRC) divulgado esta semana. Na avaliação de engenheiros norte-americanos, novas explosões podem ocorrer devido aos diversos problemas técnicos já conhecidos, e agora agravados pelas tentativas de resfriar os reatores com água do mar.

Lógica nuclear
O raciocínio, para quem conhece a indústria nuclear, é simples. O governo japonês quer evitar o pânico. Isso fora uma série de problemas econômicos e políticos que surgirão no desfecho da crise. Problemas que vão desde o aumento nas indenizações a serem pagas àqueles que forem obrigados a deixarem suas casas, até o processo de fechamento de várias usinas nucleares, incluindo claro a de Fukushima.

Jornalistas e intelectuais comparam Fukushima com o vazamento de petróleo da BP no Golfo do México em 2010. Economistas já antecipam a depressão financeira mundial por conta dos efeitos da catástrofe. E com certa razão. “Experts da indústria nuclear e financeira sempre asseguraram que a tecnologia eliminara qualquer risco de catástrofe”, cobra o professor e Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, lembrando que tais riscos geralmente se provam maiores que os benefícios prometidos.

Numa situação que coloca regulador e regulado do mesmo lado, falar em riscos soa alarmista demais.  Apesar do silêncio, tanto o governo japonês, quanto a Tokyo Electric Power (Tepco), conheciam as próprias fraquezas. Preferiram ignorá-las, por décadas praticamente. Mas além do silêncio, o que preocupa agora é justamente a imagem que esses dois atores tentam pintar.

Frases vagas, contraditórias e até mesmo absurdas aumentam ainda mais a desconfiança com o governo e a empresa operadora da planta (Tepco). “O nível de Plutônio encontrado em amostras retiradas nos dias 21 e 22 de março não impõe risco à saúde humana”, diz a Tepco. “O vazamento controlado de água ligeiramente contaminada ao mar não representa um risco para a saúde”, insiste o ministro da Indústria do Japão, Banri Kaieda. “Estreitaremos os controles sobre os produtos marítimos da região de Fukushima e das províncias contíguas”, assegura o ministro de Agricultura e Pesca, Michihiko Kano.

Contaminação global
Faltam explicações elementares sobre essas questões. Só no dia 28 de março o governo admitiu ter encontrado vestígios de Plutônio na área da usina. Não soube precisar, contudo, de onde vinha a contaminação. Sobre os recipientes com combustível usado, pelo menos um deles contendo a mistura de Plutônio e Urânio (MoX), nenhuma palavra.

A empresa nega que haja rupturas no núcleo dos reatores com problemas, embora tenha admitido um “provável” processo de fusão em um deles (o de Nr. 2). Deste reator, sabe-se também que corria um filete de água “altamente radioativa”, que desembocava no oceano Pacífico. Tudo sem correlacionar uma coisa com a outra.

Por fim, existem as perguntas que ninguém quer responder. Se traços da radiação vazada em Fukushima já podem ser encontrados em todo o Hemisfério-Norte, como anunciou na sexta-feira (08/04) a Comissão para a Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO) em Viena, por que o acidente continua sendo tratado como algo de impacto local?

Alexey Yablokov, pesquisador do Centro de Política Ambiental da Rússia, junto com Vassily Nesterenko e Alexey Nesterenko, pesquisadores do Instituto de Segurança para Radiação da Bielorrússia, publicaram no ano passado os resultados de uma extensiva investigação sobre os efeitos do acidente em Chernobyl. “Nenhum cidadão, em nenhum país pode ter a garantia de estar protegido da contaminação radioativa. Um único reator pode poluir metade do globo”, escreveram os autores na conclusão.

A esta altura vale lembrar que os quatro reatores com problemas em Fukushima somam 1.760 toneladas de combustível altamente radioativo. Em Chernobyl, o reator que explodiu tinha 180 toneladas deste material.

Experts de gabinete

“Toda a informação dos meios de comunicação está falhando. Estão dizendo coisas estúpidas”, critica Hirose Takashi. Na última segunda-feira (05/04) amostras do mar coletadas na região da usina atômica de Fukushima apresentavam 200 mil becquerels de iodo-131 de por centímetro cúbico, cinco milhões de vezes acima do limite legal. Já a presença de césio-137 detectada nas análises apresentou um resultado melhor, só 1,1 milhão de vezes acima do limite legal, que no caso é um índice ponderado pelas autoridades para viabilizar a operação lucrativa da usina.

Mesmo que o número seja “corrigido” para baixo, como aconteceu semanas antes, a forma como o assunto vem sendo tratado pela maior parte dos grandes veículos desafia o conhecimento expressado por outros especialistas e autoridades como o Departamento de Energia dos Estados Unidos. Estes afirmam, por exemplo, que por uma série de razões, não existem níveis seguros de radiação para a saúde humana.

A principal dessas razões é de conhecimento notório: radiação tem efeito cumulativo. Uma vez irradiado, irradiado está. Ou, que a soma de várias pequenas doses têm o mesmo efeito que uma grande exposição à radiação.

Um relatório publicado em 2006 pela Academia Nacional de Ciência dos EUA (NAS) indica que “há riscos para a saúde, mesmo em baixas doses de radiação”. Com o título “Efeitos biológicos da radiação ionizante” (BEIR, em inglês), o documento foi produzido por um comitê de cientistas, engenheiros e burocratas. Eles revisaram a literatura científica disponível e concluiram: “...a evidência científica atual é consistente com a hipótese de que há uma relação linear, sem limite dose-resposta, entre a exposição à radiação ionizante e ao desenvolvimento do câncer em seres humanos.”

Outra questão é que o meio ambiente do planeta já tem seu nível de radiação aumentado devido aos mais de 2.000 testes de armas atômicas realizados desde o início do projeto Manhattan, que desenvolveu a primeira bomba atômica do mundo nos Estados Unidos. “Nós já estamos vivendo em um mundo artificialmente irradiado”, argumenta Jacqueline Cabasso, diretora-executiva da Western States Legal Foundation, que monitora e analisa os programas e políticas do país relacionados ao uso bélico e pacífico da energia nuclear.

Contra-argumento

Alguns comparam os danos causados por outras fontes de energia para defenderem os reatores nucleares. “Comparemos quantas pessoas morreram nos últimos 50 anos, devido a problemas com reatores nucleares, com as que morreram em consequência de acidentes de trânsito”,  provoca o professor Roberto Ribas, do Departamento de Física Nuclear da USP. “Não estou incluindo nessa estatística as mortes, em grandes e poluídas cidades como Tóquio, devido as emissões dos resíduos de queima dos combustíveis automotivos. Já nos acostumamos com isso, os problemas decorrentes dos automóveis, e nos preocupamos muito menos com eles”, acredita ele.

O argumento vai na mesma linha de nomes internacionais do ambientalismo. Há anos o cientista britânico, James Lovelock, criador da teoria de Gaia, propagandeava a tecnologia nuclear como a única capaz de evitar a catástrofe climática. Fazendo eco a ele agora está o renomado jornalista Georges Monbiot. “Como a maioria dos ambientalistas, eu também quero energia renovável ocupando o lugar dos combustíveis fósseis, mas me dou conta de como a tarefa fica muito mais difícil se tivermos que também substituir a geração nuclear”, escreve ele em um artigo para o jornal britânico The Guardian.

Ao que tudo indica, independente do final da história em Fukushima, o grande tabu da questão energética continuará sendo a intocável garantia do consumo abundante.

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Situação dos reatores em Fukushima Daichi 1

Medição da radiação


Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 09/04/2011

 


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