Quase 25 anos se passaram desde que a explosão de um reator em Chernobyl tornou-se o maior desastre nuclear da história. Este ano, o aniversário do acidente, lembrado no fim de abril, poderia passar despercebido, não fosse um novo caos nuclear assolar o Japão. Para o Greenpeace, Chernobyl nunca foi esquecido. Uma equipe esteve lá e revelou: o drama continua.
Nas proximidades da cidade ucraniana, que na época da explosão ainda pertencia à antiga União Soviética, o leite consumido pelas crianças, algumas frutas silvestres e cogumelos apresentaram níveis de contaminação por césio-137 muito acima do recomendado para a saúde humana. Foi o que detectou o time de especialistas em radiação que esteve recentemente na cidade.
Na época do acidente, quando uma violenta explosão destruiu o revestimento de um reator e causou a liberação de níveis extremos de radiação no ar, 18 mil km2 de plantações de alimentos foram contaminados. Nos anos seguintes ao desastre, o governo ucraniano fez uma série de análises nos alimentos, mas há dois anos não volta na região, ou publica dado novo.
Este é o principal erro para Iryna Labunska, pesquisadora do Greenpeace Internacional que esteve envolvida no monitoramento. “É preciso que haja pesquisa mais aprofundada sobre a contaminação na agricultura ucraniana hoje”, afirma. “A radiação dos alimentos afeta pessoas que vivem até a quilômetros da cidade, mas que consomem a produção local”, complementa.
Em 1986, ano do acidente, a área afetada pelo desastre nuclear foi equivalente à cinco vezes o território da Holanda. Sete milhões de pessoas, destas, três milhões de crianças, moravam em áreas próximas à Chernobyl. Cerca de 350 mil tiveram que abandonar suas casas. Estima-se que o número de mortes por casos de doenças relacionadas à radiação seja em torno de 100 mil.
“Estamos assistindo no caso de Fukushima a uma situação muito parecida acontecer com o leite e vegetais consumidos pelos japoneses”, diz Labunska. Em vilarejos fora do raio de evacuação estipulado pelo governo, uma equipe do Greenpeace encontrou níveis de contaminação muito elevado nos alimentos e populações ainda não devidamente alertadas para o perigo.
“Só há uma maneira de evitarmos casos como estes”, alerta Labunska. “Acabar com a produção de energia nuclear no mundo”.
(Greenpeace Brasil, 08/04/2011)