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lixo radioativo angra 1 angra 2
2011-04-08 | Tatianaf

Passados 26 anos que o Brasil produz energia nuclear, a solução definitiva sobre o que fazer com o lixo radioativo gerado pelas usinas de Angra 1 e 2 ainda esbarra em decisões políticas para se tornar realidade. Embora o país já disponha de tecnologia para construir um depósito definitivo para os resíduos, todo o material gerado no complexo nuclear desde o início das operações das usinas, em 1986, está armazenado de forma temporária.

Com o início das operações de Angra 3 previsto para dezembro de 2015 e a capacidade dos depósitos de Angra 1 e 2 perto do limite, o governo brasileiro terá que alcançar uma solução nos próximos anos. O projeto para a construção de um depósito final também esbarra em uma questão polêmica: a escolha do local que receberá os materiais radioativos, um vizinho considerado indesejado.

Desde que Angra 1 e 2 entraram em operação, já existem 2.777 m³ de lixo radioativo (sem considerar as varetas de urânio), quantidade suficiente para encher pouco mais de uma piscina olímpica. Esses resíduos estão guardados, de forma provisória, em um depósito que fica próximo ao complexo nuclear.

Entre os resíduos considerados perigosos, estão peças, ferramentas e roupas que tiveram contato com a radiação, considerados de média e de baixa radioatividade. O lixo radioativo pode emitir radiação por milhares de anos e, se guardado de forma irregular, pode causar um desastre como o que aconteceu em Goiânia, com o Césio-137, que provocou a morte de 60 pessoas.

À época, em 1987, catadores de lixo desmontaram equipamentos que continham material radioativo e que haviam sido abandonados por uma clínica de saúde desativada. Segundo a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia responsável por licenciar e fiscalizar as operações das usinas, esse material está armazenado de forma segura no único depósito definitivo para lixo radioativo que existe no Brasil, localizado na cidade Abadia de Goiás, na região metropolitana de Goiânia.

Tambores concretados em piscina
De acordo com o diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da CNEN, Laércio Antônio Vinhas, a elaboração do projeto que dará destino final ao lixo radioativo é “uma das prioridades da comissão”.

- A tecnologia nós já temos. O projeto de Goiânia é mais simples, mas a concepção é a mesma.

Ele explica que entre o material radioativo e o ambiente deve haver até oito barreiras físicas. O lixo será armazenado em tambores, que são concretados e vão para uma espécie de piscina vazia que é completada com mais concreto. Depois disso, esse tanque será fechado com uma laje e, em cima de tudo isso, ainda haverá mais uma cobertura de concreto e de terra.

Para Vinhas, uma das alternativas para resolver o impasse sobre o local onde esse depósito deve ser construído é a criação de uma espécie de “royalty inverso”, sistema em que os municípios receberiam dinheiro não pela extração de um recurso mineral, mas para guardar o lixo radioativo.

- Não é um problema técnico, mas sim político. Na Coreia, por exemplo, o governo abre uma concorrência invertida. As cidades disputam para receber o depósito por conta das compensações financeiras.

Outro tipo de resíduo produzido nas usinas é o combustível que fica no interior das varetas de urânio. Quando chega ao fim, elas são armazenadas em um tanque coberto com água (a água funciona como barreira que evita emissão de radiação).

Segundo a Eletronuclear, as piscinas têm vida útil até 2020. Depois disso, será preciso dar um novo fim para esse combustível. Em outros países que usam energia nuclear, o urânio é reprocessado e reutilizado, como explica o coordenador de Comunicação e Segurança da Eletronuclear, José Manuel Diaz Francisco.

- O urânio pode ser reprocessado para um novo ciclo de uso, mas o Brasil ainda não reprocessa. Essa é uma decisão que cabe ao governo brasileiro.

Passivo ambiental
O professor de engenharia nuclear da Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ e PhD em energia nuclear no Massachusetts Institute of Technology, Antonio Carlos Marques Alvim, diz que já existe tecnologia para armazenar com segurança material radioativo sem uso.

- Uma das críticas em relação à energia nuclear era sobre o destino dos rejeitos [resíduos], mas hoje já há estudos para melhorar os reservatórios e para a transmutação dos rejeitos, ou seja, para diminuir seu tempo de vida e causar menos impacto para o ambiente.

Sem entrar na discussão sobre como garantir a segurança no armazenamento desses materiais, o coordenador da campanha de energias renováveis da ONG Greenpeace, Ricardo Baitelo, chama a atenção para uma questão de difícil solução e que ainda representa um enorme desafio não apenas para o Brasil, mas para todos os países que usam energia nuclear.

Para ele, o mais grave problema envolvendo a questão são "os passivos nucleares que serão passados de geração para geração, a perder de vista".

- Esse combustível terá de ser estocado por muitos anos. A gente não está falando só de centenas de anos, mas de milhares de anos. Como é que se sabe se existe uma estrutura capaz de manter isso seguro e imune à qualquer acidente? Não só a terremotos como o do Japão, mas à mudança na elevação do nível do mar, considerando as mudanças climáticas que ocorrerão ao longo dos anos?

(Paraíba, 08/04/2011)


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