Ambientalistas veem a pressão mundial para uma redução na utilização da energia nuclear como uma má notícia na batalha contra o aquecimento global, caso ela não seja integralmente substituída por outras fontes renováveis, como a eólica e a solar.
O temor dos ativistas é que matrizes sujas, como petróleo e carvão, preencham o espaço deixado pela queda no uso de energia atômica - que não emite gases do efeito estufa. "É uma escolha falsa que estão dando ao público: o desastre climático ou o nuclear", diz Tove Maria Ryding, do Greenpeace.
A diretora de mudanças da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas, Christiana Figueres, acredita, no entanto, que todos os países devem revisar sua política nuclear devido ao acidente no Japão. "Resta ver o que será decidido", disse ela em Bangcoc, em uma reunião preparatória para a cúpula climática de Cancún, no final do ano.
Figueres e outros especialistas temem que as promessas de redução de poluentes cheguem a apenas 60% do necessário para evitar níveis perigosos de aquecimento do planeta. Até 2020, cientistas tentam evitar que a temperatura ultrapasse 2ºC acima de níveis pré-industriais. A utilização de combustíveis fósseis no lugar de nucleares possivelmente dificultaria esta meta.
Antes do acidente em Fukushima, a Agência Internacional de Energia (AIE), calculava que as usinas nucleares agregariam 360 gigawatts à capacidade de geração de energia global em 2035. Esta projeção foi cortada pela metade.
De acordo com o economista-chefe do órgão, Faith Birol, este déficit será ocupado em parte por queima de carvão e gás. Com isto, a emissão de dióxido de carbono cresceria 5% acima do previsto nesse período. "Está acabando o tempo para alcançar a meta limitar o aquecimento global. Com a diminuição da energia nuclear, isto fica mais difícil."
(Por Dennis D. Gray, AP, O Estado de S.Paulo, 08/04/2011)