Ambientes com maior variedade de algas (também conhecidas como fitoplâncton) se mostraram beneficiados pela limpeza mais rápida de poluentes da água, segundo um estudo divulgado hoje (6) pela Universidade de Michigan. Os cientistas descobriram que oito espécies de algas removeram em conjunto nitrato 4,5 vezes mais rápido que em ambientes com apenas uma espécie. A pesquisa sugere que uma eventual extinção destas algas pode comprometer também a qualidade da água.
O estudo comprova o “princípio da divergência” de Charles Darwin, na qual ele propunha que comunidades complementares podem aumentar em todos os sentidos a capacidade de captura de recursos e produtividade. “Conseguimos mostrar que a natureza funciona como um time de futebol, onde cada um tem funções diferentes, mas complementares”, disse Bradley Cardinale, que publicou o estudo na edição desta semana do periódico científico Nature.
Cardinale utilizou 150 modelos de ecossistema em miniatura, onde ele reconstituiu ao processo de circulação da água nos rios. Ele germinou entre uma e oito espécies de alga nas amostras e mediu a capacidade de cada comunidade de alga em absorver nitratos, compostos de nitrogênio que são muito usados em fertilizantes e altamente poluentes.
“O estudo reflete que é preciso uma maior preocupação com a preservação das espécies. A conservação está preocupada com a perda das grandes espécies, mas outras também são muito importantes para a humanidade e podem também entrar em extinção”.
Nas últimas duas décadas, outras pesquisas mostraram que ecossistemas mais variados são mais eficientes em remover nutrientes do solo e da água. Mas até então os mecanismos específicos biológicos desta diferença não haviam sido identificados.
Nas simulações em laboratório foi possível observar como diferentes algas dominavam cada habitat aquático. Habitats onde a água se movia com alta velocidade, por exemplo, foram dominados por pequenas diatomáceas unicelulares que trancaram o leito do rio de forma resistente para que o nitrato pudesse ser absorvido. Habitats de águas mais calmas foram dominados por algas com grandes filamentos para captar o nitrato. Quando a simulação do ecossistema do riacho continha apenas um tipo de habitat, os efeitos da diversidade de algas sobre a absorção de nitrato desapareceu, confirmando que as diferenças de nicho entre as espécies foram responsáveis pelos resultados.
“O estudo mostrou quantas espécies nós precisamos conservar para limpar a água, além de mostrar porque riachos que têm mais espécies são melhores para a remoção desses poluentes nutrientes da água”, disse. E, inclusive, acredita que no longo prazo elas podem ajudar o sistema de tratamento de maneira mais eficiente: “Todos nós sabemos que não precisamos da biodiversidade para limpar a água, mas ela é mais eficiente e faria este serviço para você de graça”.
De acordo com Bradley, o seu estudo agora será direcionado para o entendimento do que acontece com os nitratos e compostos de nitrogênio depois que as algas os absorvem. “Vão para a cadeia alimentar? Ainda não sabemos”, disse.
(Ultimo SEgundo, 07/04/2011)