Nos escritórios do Greenpeace, já faz dez anos que o dia 4 de abril deixou de ser uma data qualquer. Afinal, faz exatamente uma década que comemoramos a primeira grande vitória em florestas. Não foi no Brasil, na Indonésia ou na África. Mas no Canadá, onde fica um quarto do que sobrou das florestas costeiras temperadas do mundo. Naquele dia, a indústria madeireira que avançava sem limites mata adentro assinou um pacto pelo fim da destruição. Foi o início de um novo tempo para a biodiversidade e as comunidades locais.
O caminho até o comprometimento foi longo, e começou ainda antes de o século virar. Em 1998, o ritmo dos tratores assinalava o futuro da floresta: se nada fosse feito, diziam as previsões, toda ela seria consumida em pouco mais de 30 anos, para virar madeira e papel. Foi por essa época que o Greenpeace entrou em campo. Literalmente. Ano após ano, foram várias as estradas bloqueadas, as empresas expostas e as mensagens espalhadas, até que a relação entre indústria e sociedade civil se transformasse de conflito em colaboração.
De 2001 para cá, a moratória inicial foi se aperfeiçoando e novos acordos surgiram. A exploração dos recursos foi deixando de ser predatória, e outras perspectivas econômicas – como o turismo – se abriram para a floresta. Ao mesmo tempo, os conflitos de terra tão presentes há dez anos foram, aos poucos, amenizando. Tanto indústria quanto comunidade saíram ganhando, num processo em que a preservação só vem cavando mais espaço: em 2005, 5% da cobertura vegetal já estavam sob proteção oficial. Em 2009, eram 50%. E a expectativa é que até 2014 esse número suba para 70%.
Enquanto isso, no Brasil, os números de preservação correm o risco de tomar uma rota contrária nos próximos anos. No Congresso, uma ofensiva ruralista tenta a qualquer custo votar para já mudanças no Código Florestal, abrindo caminho para mais desmatamento num país que já perdeu 93% de Mata Atlântica e mais de 17% da Amazônia.
O histórico na floresta costeira temperada do Canadá mostra que esse caminho não é mais necessário, e só aponta para um passado em que indústria e sociedade não dialogavam entre si. Num mundo às voltas com o aquecimento global e com as mudanças climáticas, o fim do desmatamento – que contribui com pelo menos 21% das emissões globais – tornou-se meta obrigatória. E passaporte para o futuro.
(Greenpeace Brasil, 06/04/2011)