Na nota à imprensa publicada hoje no Blog de Luis Nassif a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), divulga várias questões sobre a mina de urânio de Caetité. A nota revela o confronto aberto entre a CNEN e a Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), que gere a mina de modo ineficente e pouco transparente.
A CNEN diz na nota à imprensa que a “INB não tem capacidade de produzir os relatórios anuais de monitoração ambiental (não consegue realizar medidas radiométricas). O último é referente ao ano de 2008. Esses relatórios são vitais para a avaliação de impacto ambiental da instalação”.
Apesar de pouco capaz para produzir a monitoração ambiental, a INB decide sòzinha tentar fazer a recuperação de áreas degradadas, o que também não consegue fazer com eficiência, como depreende do ítem da nota da CNEN que diz o seguinte:
“Em Julho/2010, foi detectada presença de contaminação, por solvente orgânico, em um poço de monitoração. A INB, por iniciativa própria, realizou uma remediação da área que incluiu a retirada de um volume solo de cerca de 4x4x4 m3, bem como a remoção do concreto de toda a área para identificação de possíveis infiltrações e recuperação do piso. Assim, toda a unidade de estocagem e preparação de solvente foi desmontada, deixando a área inoperante por cerca de 4 meses. Ressalta-se, ainda, que o PMA-18 continua apresentando ocorrência de solvente até a presente data, conforme inspeção regulatória de 21 a 24/03/2011, demonstrado que a remediação realizada pela INB não surtiu efeito”; ou seja, o problema continua sem solução.
A CNEN admite que só em 2010 assinou a Autorização de Operação Permanente (apesar da mina funcionar desde 2000) da usina de Caetité; admite que tem ocorrido acidentes denunciados pela população e que não foram esclarecidos e, sequer, informados à ela, CNEN; e que parte dos problemas vem sendo apurados pelo Ministério Público Federal.
A nota da CNEN é a primeira manifestação pública oficial sobre o conjunto de problemas de segurança nuclear apresentados na mina de Caetité. Outra questão preocupante apresentada na nota é sobre a ocupação contínua de áreas para armazenar os rejeitos da mineração. Ficamos sabendo que duas áreas de 200 mil metros quadrados para deposição de rejeitos da mina já estão quase esgotadas e que, apesar da CNEN ter a autorizado a construção de nova célula para armazenar mais rejeitos, até hoje as obras não foram concluídas. E mais: uma das células com rejeitos “teve parte do talude solapado (em junho/2008), com posterior extravasamento de efluentes retidos”. E que, portanto, podem contaminar solo e água.
Por fim, o documento do CNEN afirma que “o diagnóstico que pode ser apresentado para a ineficiência da produção da INB na URA pode ser devido, principalmente: (i) a falta de um programa de manutenção preventivo, preditivo e corretivo, (ii) a obtenção e análises de dados de amostras coletadas; (iii) o cumprimento de critérios de engenharia, segurança nuclear e proteção radiológica e (iv) planejamento estratégico”. São palavras que poderiam servir para intervenção enérgica do governo para evitar o agravamento futuro dos problemas.
(Blog Bahia na Rede, OngCea, 04/04/2011)