Agricultores e a indústria do fumo tentam barrar novas restrições à exposição e à venda de cigarros, além da proibição do uso de aromatizantes e açúcares nos derivados de tabaco no país.
As medidas estão sendo discutidas em duas consultas públicas promovidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e estão de acordo com a Convenção Quadro (tratado internacional antitabagismo do qual o Brasil é signatário).
O lobby do cigarro atua em duas frentes. De um lado, tenta convencer o Planalto a obrigar a Anvisa a recuar de novas restrições; de outro, trabalha para retardar a conclusão das consultas.
Autoridades de saúde afirmam que, combinadas, a alteração do sabor do cigarro e a proibição da exposição podem reduzir o consumo.
O Sinditabaco (associação das indústrias de cigarro) alega que as restrições trarão prejuízos para 1 milhão de agricultores familiares, fecharão postos de trabalho e permitirão que o cigarro contrabandeado ganhe terreno.
Para retardar a conclusão das consultas públicas, agricultores e empregados da indústria preencheram cerca de 200 mil formulários com sugestões à Anvisa _que não pode implementar novas restrições sem analisar todo o material produzido durante o debate. As fichas devem ser entregues hoje ao órgão.
Empresas do setor bancaram a impressão dos formulários e montaram uma operação logística para distribuí-los e depois recolhê-los entre produtores nos Estados do Sul, que concentram mais de 90% da produção brasileira.
"Queremos postergar o resultado dessas consultas para esclarecer alguns pontos, como o dos ingredientes. Mudar o sabor do cigarro não tem nenhuma relação com a questão da saúde", diz Benicio Werner, presidente da Afubra (entidade nacional de agricultores de fumo).
Para o presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, Carlos Salgado, a proibição de ingredientes é benéfica, porque muitos jovens se iniciam no tabagismo fumando cigarros mentolados, de sabor mais palatável.
CAMPANHA
No front político, deputados e senadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná e da Bahia (maiores produtores) pressionam o governo. O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, se comprometeu a receber os políticos e representantes do setor fumageiro.
Um dos instrumentos de pressão é o forte apoio que Dilma Rousseff teve nas cidades que lideram a produção de fumo. Na campanha do ano passado, a petista conquistou até 80% no eleitorado das regiões fumageiras.
"Eu fazia campanha com o programa do [José] Serra na mão, mostrando aos colonos que ele era contra o tabaco, e que a Dilma tinha se comprometido a apoiar os produtores. Passou a eleição, mudou tudo", diz o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS).
Procurada pela Folha, a Anvisa não se manifestou.
(Folha.com, 31/03/2011)