O mundo precisa da energia nuclear, disse hoje o Presidente francês Nicolas Sarkozy, numa visita ao Japão, palco do segundo maior acidente da indústria atómica desde Tchernobil.
Sarkozy é o primeiro chefe de Estado ou de governo a visitar o Japão, desde o devastador sismo e tsunami de 11 de Março, que deixou cerca de 28.000 mortos e desaparecidos e causou um grave acidente nuclear.
O Presidente francês chegou hoje a Tóquio e defendeu uma reunião das autoridades nucleares dos países do G20 – as maiores economias do mundo – em Maio, em Paris, para debater a adopção de regras internacionais de segurança para a energia nuclear. “É absolutamente anormal que essas normas de segurança interancional não existam”, disse Nicolas Sarkozy, citado pela agência AFP.
De acordo com a agência japonesa de notícias Kyodo, Sarkozy declarou que o mundo precisa da energia nuclear para conter as emissões de dióxido de carbono (CO2) de outras formas de produção de electricidade. O CO2 é apontado como o principal culpado pelo aquecimento global dos últimos 50 anos.
Sarkozy também afirmou que o nuclear mantém-se como uma fonte viável de energia.
A opinião do líder da França – a segunda maior potência nuclear mundial, depois dos Estados Unidos – surge num momento em que o Japão luta desesperadamente para conter o desastre nuclear na central de Fukushima 1, atingida por ondas de 14 metros no tsunami de 11 de Março.
Governo pressionado a alargar zona de exclusão
Engenheiros, técnicos e bombeiros têm desde então tentado controlar a temperatura dos reactores e das piscinas de combustível nuclear usado, uma vez que os sistemas de arrefecimento foram inutilizados pelo tsunami. Mas não só há radiação a escapar-se dos reactores para o ar, como água radioactiva está a acumular-se em outros edifícios da central e em túneis externos.
O Governo japonês tem sido alertado para alargar o perímetro de evacuação em torno da central de Fukushima, inicialmente fixado em 20 quilómetros. A Agência Internacional de Energia Atómica informou as autoridades japonesas, na quarta-feira, ter detectado níveis de radioactividade na cidade de Iiate, a 40 quilómetros da central, acima do limite que este organismo considera para decidir evacuar uma determinada área. “Aconselhámos [as autoridades japonesas] a avaliar cuidadosamente a situação”, refere a agência, num comunicado emitido ontem.
A organização ambientalista Greenpeace também aconselhou o Governo a alargar por pelo menos mais 10 quilómetros a zona de exclusão.
“Não penso que seja necessário tal acção”, disse hoje, porém, o ministro porta-voz do Governo japonês, Yukio Edano, justificando que não há risco imediato para a saúde. Edano admitiu, no entanto, que os níveis encontrados “a longo prazo podem ser perigosos para a saúde”.
Cerca de 70.000 pessoas foram retiradas da actual zona de exclusão. O seu alargamento a 30 quilómetros significa a deslocação de mais 130.000 habitantes.
Entretanto, um novo pico de radioactividade foi detectado no mar, ao largo da central nuclear, com concentrações de iodo radioactivo 4385 vezes acima do normal.
A situação em Fukushima mantém-se “séria”, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, e poderá levar semanas ou meses até ser controlada.
Especialistas do grupo nuclear francês Areva, bem como o seu próprio presidente, estão no Japão a prestar auxílio técnico. Os Estados Unidos, por sua vez, puseram à disposição do Japão um robô resistente à radioactividade, para inspeccionar locais da central nuclear onde os técnicos não podem entrar.
(Por Ricardo Garcia, Publico.PT, 31/03/2011)