O acidente nuclear ocorrido há duas semanas na Usina de Fukushima, no Japão, voltou a colocar em pauta, em todo o mundo, a segurança das usinas nucleares. E, no Brasil, alguns governadores do Nordeste decidiram reavaliar se região deve receber uma das quatro novas usinas que o governo federal pretende construir no país até 2030. "Quem é que vai, em meio à atual discussão, [dizer] "eu quero agora uma usina nuclear para o meu estado". Só se for idiota. E eu não sou idiota", disse o governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), à Agência Brasil, hoje (23). Martins fez questão de frisar que "não recuou" da disputa com outros estados nordestinos cotados para abrigar uma das usinas, mas deixou claro que o projeto a cargo do Ministério de Minas e Energia deve ser "repensado".
"Agora, mudou tudo. O mundo inteiro está repensando os investimentos em energia nuclear, até então considerada segura e limpa. E o Piauí, assim como o Brasil como um todo, não vai deixar de repensar também", afirmou o governador, alegando que a situação exige bom-senso. O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), também já havia mencionado, em nota, a necessidade de o país rediscutir a expansão da matriz nuclear com segurança. "A pretensão do estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos", afirmou o governador, cuja preocupação recebeu o apoio inclusive do setor produtivo sergipano.
"Apoiamos a decisão de que a instalação de uma usina nuclear em Sergipe deve ser precedida por uma reavaliação dos sistemas de segurança atualmente em vigor", manifestou o Fórum Empresarial de Sergipe em um documento redigido na reunião da última terça-feira (15). "Cabe-nos, porém, alertar que uma ação isolada de Sergipe não é eficaz, pois o risco para nossa população é semelhante se [uma usina for] instalada em regiões limítrofes, sendo assim sugerimos uma ação integrada com os demais estados nordestinos".
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também tem repetido que a população pode ficar tranquila pois qualquer decisão quanto à instalação de novas usinas deve demorar ao menos quatro anos, tempo suficiente para que os aspectos de segurança sejam discutidos. A cidade pernambucana de Itacuruba, a 460 quilômetros da capital, Recife, foi apontada pela Eletronuclear como uma das melhores opções para a instalação de uma usina nuclear no Nordeste.
"Entendemos as preocupações de muitos quando ocorrem eventos como os do Japão. De fato, é preciso avançar ainda mais nos estudos sobre a segurança das plantas, inclusive em situações extremas, como o recente terremoto. No caso brasileiro, porém, temos que entender que nosso programa nuclear é muito maior que uma usina nuclear e não pode ser estigmatizado. Visa, por exemplo, a desenvolver aplicativos para a área médica, propiciando diagnósticos e tratamentos de muitos males, como o câncer. No tocante à geração de energia, é preciso ter em mente que não há qualquer decisão para a construção de novas usinas no Brasil. É só olhar nosso planejamento plurianual para ver que não há previsão orçamentária nem decisão política tomada pelo governo", disse.
Na terça-feira (22), o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, assegurou que o Brasil não tem pressa para construir novas usinas e, quando isso ocorrer, será muito mais rigoroso na questão da segurança das novas instalações, em conformidade com os novos padrões adotados internacionalmente após a tragédia japonesa.
O Brasil tem duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, ambas administradas pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Angra 3 está em fase de construção. Ontem (23), quando perguntado se o governo pode desistir de construir as quatro novas usinas, o presidente da Eletrobras, João da Costa Carvalho Neto, disse apenas que a decisão cabe ao Conselho Nacional de Política Energética e à Presidência da República.
(Agência Brasil, EcoAgência, 30/03/2011)