Em dois anos, o Brasil deve produzir etanol celulósico. O combustível que pode ser feito de resíduos da indústria, como o bagaço da cana, é considerado a segunda geração do etanol que utilizamos hoje. O Brasil é visto como o grande fornecedor do produto no futuro.
O etanol que sai das usinas e chega às bombas de postos de combustíveis é produzido a partir da sacarose da cana-de-açúcar. O novo, chamado de segunda geração, pode ser feito da biomassa do que sobra do primeiro. Na cana, o bagaço; no milho, a palha; e também dos resíduos da madeira.
– É um etanol, no final, idêntico ao etanol que obtemos da sacarose do açúcar, só que em termos de processamento ele depende desta macro-molécula, que é a celulose, extremamente rígida. Um dos exemplos de aplicação da celulose é o papel. Ele é feito basicamente de celulose. Nós temos que ter instrumentos para destruir essa estrutura mais rígida da celulose para converter em açúcar, e a partir daí o processo seria muito semelhante ao que a gente já obter por sacarose – afirmou Adilson Gonçalves, especialista em biocombustíveis.
O Brasil tem tudo para sair na frente na produção de etanol celulósico. Tem matéria-prima como nenhum outro país, além de centros de pesquisa instalados e investimentos. Mas não o suficiente, segundo Jaime Finguerut, gerente de desenvolvimento industrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Este foi um dos temas da palestra que ele deu nesta segunda, dia 28, a especialistas do mundo inteiro em São Paulo.
– Falta, digamos, um ambiente propício pra que as empresas possam investir. Os produtores hoje de etanol, açúcar e eletricidade precisam de uma dose de certeza, de que isso vai retornar a curto prazo. Isso está começando a aparecer. A gente tem hoje um ambiente econômico muito melhor do que há dez anos. Mas ainda falta, e é por isso que parcerias de certos países podem vir pra trabalhar vantajosamente conosco aqui – disse Finguerut.
Mundo
A Dinamarca é um dos países produtores de etanol celulósico. A multinacional em que o executivo Pedro Luiz Fernandes trabalha, a Novozymes, é de lá. Ele pesquisa há dez anos o aproveitamento de resíduos agrícolas para produzir o novo combustível. O avanço é conseguir reduzir os custos neste processo.
– Em dois anos, nós diminuímos quatro vezes a adição de enzimas para produção de etanol celulósico. Ou seja, produzir o etanol do bagaço de cana-de-açúcar. Eu diria que a questão ainda é custo. Veja, não é muito fácil competir com 500 anos de produção de etanol da primeira geração, que é o etanol que hoje a gente compra nos postos de gasolina – argumentou o executivo.
Existem várias formas de produção de etanol celulósico. Pelo uso de enzimas, como faz a empresa da Dinamarca, é um deles. O mais comum usa ácidos para retirar a sacarose das plantas. É um processo químico caro e, assim, inviável economicamente.
Os investimentos, a matéria-prima e a pesquisa vão determinar o sucesso do etanol celulósico no Brasil. Nos laboratórios, boa parte está sendo feita neste sentido. A cana-de-açúcar é a matéria-prima para produção de um dos processos mais viáveis para o país.
O professor Marcos Buckeridge, que coordena o trabalho no Instituto de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, diz que o Brasil já tem inclusive condições de aproveitar o material. Isso significa que a preparação química feita atualmente em laboratório vai ser de forma natural no crescimento da planta.
A previsão dos especialistas é que, até 2014, o país possa produzir etanol celulósico a partir do bagaço da cana, a matéria-prima mais farta no Brasil.
(CANAL RURAL, 29/03/2011)