Equipes de emergência que tentam retirar água contaminada de dentro do complexo nuclear de de Fukushima-Daiichi, no Japão, abandonaram às pressas um dos reatores danificados pelo terremoto do dia 11 de março após ser verificado um forte aumento da radioatividade no local. Autoridades informaram níveis de radioatividade dez milhões de vezes mais altos do que o normal no sistema de resfriamento do reator.
O número é tão alto que o funcionário que media os níveis de radiação abandonou o local antes de fazer a segunda medição. Não ficou imediatamente claro, no entanto, por quanto tempo os trabalhadores foram expostos à água altamente contaminada ou há quanto tempo os níveis de radiação estão tão altos. Autoridades dizem que ainda não sabem de onde a água contaminada está vindo, mas Yukio Edano, chefe de gabinete do governo do Japão, afirmou que é "quase certo" que ela está vazando do núcleo rompido de um dos reatores.
A notícia surge após o governo reconhecer que há água contaminada nos quatro reatores mais danificados da usina e que a radiação dentro de um dos reatores está em mil milisieverts por hora - quatro vezes acima do limite considerado seguro pelo governo, de acordo com Takashi Kurita, porta-voz da Tokyo Electric Power Co. (Tepco).
Embora a descoberta dos altos níveis de radiação - e a retirada às pressas dos trabalhadores de um dos reatores - tenha novamente atrasado os esforços para colocar a usina sob controle, Edano insistiu que a situação foi parcialmente estabilizada. "De certa forma nós evitamos que a situação piorasse", disse Edano. "Mas as perspectivas não estão melhorando da forma correta e nós esperamos reveses", acrescentou.
Cerca de 600 pessoas estão trabalhando dentro da usina. Autoridades de segurança nuclear afirmam que o período de permanência das equipes dentro dos reatores com problemas é monitorado de perto, para minimizar a exposição deles à radioatividade. No entanto, dois funcionários foram hospitalizados na quinta-feira, depois de sofrerem queimaduras ao pisar em água contaminada. Eles deverão receber alta hoje.
Número de mortos chega a dez mil
O número de mortos devido ao terremoto e ao tsunami no Japão aumentou ontem para 10.668, enquanto outras 16.574 pessoas ainda estão desaparecidas, segundo o último cálculo da polícia local. Além disso, cerca de 240 mil pessoas continuam refugiadas em 1.900 centros de evacuação por causa do desastre, que representa a pior crise do Japão após a Segunda Guerra Mundial. Há, pelo menos, 18 mil casas destruídas e mais de 130 mil prédios danificados, sobretudo nas regiões litorâneas do Nordeste japonês, onde as temperaturas abaixo de zero grau, como em Iwate, complicam a situação do desabrigados mais idosos.
Segundo os números oficiais, em Miyagi houve 6.477 mortos, em Iwate 3.185 e em Fukushima 948, enquanto os desaparecidos se contam em milhares nessas três províncias, as mais devastadas pelo terremoto e posterior tsunami. O grande número de vítimas nas províncias de Miyagi e Iwate obrigou as autoridades a enterrarem muitas vítimas em valas comuns temporárias, perante a impossibilidade de continuar com as cremações.
Do total de pessoas refugiadas, cerca de 33.500 foram transferidas para outras regiões, como Niigata, Saitama e Gunma. A maioria delas provém de Fukushima, onde a crise nuclear obrigou a evacuação de uma área de 20 quilômetros.
De acordo com uma pesquisa divulgada ontem pela agência Kyodo, cerca de 58% dos japoneses desaprovam a gestão de seu governo na crise nuclear de Fukushima frente a 39,3% que concordam. Por outro lado, 57,9% afirmaram estar de acordo com a maneira na qual a gestão do primeiro-ministro Naoto Kan está realizando os trabalhos de assistência às vítimas do terremoto e do tsunami.
(JC-RS, 28/03/2011)