Começa nesta sexta-feira (25), em São Mateus, norte do Estado, mais uma etapa da luta pelo consumo de alimentos saudáveis encabeçada pela Via Campesina. De âmbito nacional, a “Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida” tem o objetivo de mudar a realidade do País, maior consumidor de venenos do mundo, desde 2009, e do Espírito Santo, que chegou a figurar o 3° lugar na lista dos maiores consumidores de agrotóxicos do País.
A intenção da mobilização é debater com a sociedade as conseqüências do uso dos agrotóxicos, buscando o combate da sua aplicação em todo o País, como aponta a Via Campesina, entidade que reúne pequenos produtores rurais, em diversos países.
Ao todo, ressalta a Via Campesina, os País consumiu 1 bilhão de litros de agrotóxicos durante o ano de 2010, quantidade que corresponde a um crescimento de 300 milhões no consumo anual de venenos pelo Brasil, que tem levado o País à contaminação do solo, da água, do ar, dos alimentos e, consequentemente, do ser humano.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso revelou que os agrotóxicos usados nos campos de Lucas do Rio Verde, um dos maiores produtores de grãos no estado, estão contaminando o leite materno. No leite das mulheres foram detectados até seis tipos de agrotóxicos. Na maioria das amostras foi encontrado inclusive o DDE, um derivado do DDT, proibido desde 1998 por causar infertilidade e abortos.
A contaminação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos, segundo o estudo, mas a inalação e o contato com a pele também geram problemas de saúde na população.
No Espírito Santo, a situação não é diferente. Apesar dos poucos estudos divulgados neste sentido, há denúncias do alto índice de abortos espontâneos em áreas rurais onde o uso de agrotóxico é intenso, assim como relatos de má-formação fetal, câncer, impotência, depressão e até suicídios.
Segundo a Via Campesina, crescem a cada dia registros de intoxicações e mortes ligadas ao uso dos agrovenenos, que frequentemente afetam trabalhadores agrícolas e a população camponesa e urbana, que consomem alimentos com resíduos de agrotóxicos.
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgadas em 2005, apontam para a ocorrência de 7 milhões de intoxicações severas anuais no mundo, das quais resultam cerca de 70.000 mortes, a maioria delas por exposições ocupacionais.
O lançamento da campanha em São Mateus será realizado às 9h, no Centro de Formação do Movimento Sem Terra (MST). Já o lançamento nacional, está previsto para o dia 7 de abril, em São Paulo.
A Via Campesina defende uma produção limpa, com base na agroecologia e nas práticas camponesas de cultivo. Essa proposta está articulada com a necessidade de uma nova dinâmica de produção para o campo brasileiro, que priorize a sustentabilidade do meio ambiente e a produção de alimentos saudáveis para a população.
Brasil
Nas lavouras brasileiras são usados pelo menos dez produtos proscritos na União Europeia (UE), Estados Unidos e um deles até no Paraguai. Campeão mundial de uso de agrotóxicos, o Brasil se tornou nos últimos anos o principal destino de produtos banidos em outros países.
A informação é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base em dados das Nações Unidas (ONU) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Apesar de prevista na legislação, o governo não leva adiante com rapidez a reavaliação desses produtos, etapa indispensável para restringir o uso ou retirá-los do mercado.
Em 2008, uma nova lista de reavaliação sobre produtos banidos foi feita, mas, por divergências no governo, pressões políticas e ações na Justiça, não obteve sucesso.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 24/03/2011)