A opção do caderno de ZH com o ambicioso título Nosso Mundo Sustentável é abordar questões distantes, geográfica e politicamente, e de preferência distante quilômetros dos problemas ambientais que proliferam no nosso entorno.
Ironias à parte, o título acima é uma sugestão para os editores do caderno de Zero Hora (ZH) que tem o ambicioso título de Nosso Mundo Sustentável, e que no intuito de garantir o apoio comercial da Souza Cruz forçam a barra com a pretensão de abordar o meio ambiente sob a bandeira da multinacional do fumo. A crítica proposta não se limita ao patrocinador, mas principalmente à temática e ao enfoque. Ambos absolutamente assépticos, distantes de qualquer contextualização com a realidade local, afinal ninguém é bobo para mexer nesse abelheiro.
A missão do suplemento, porém é ambiciosa: pretende abordar “o que afeta a sociedade e seu futuro”, segundo explica sua editoria, exceto é claro no que concerne ao consumo de cigarro e seus malefícios. É obvio que ninguém quer matar a galinha dos ovos de ouro e a sujeira acaba indo para debaixo do tapete, mas ignorar, entre outros, o fato de que as empresas fumageiras compraram fumo plantado em áreas de Mata Atlântica desmatadas ilegalmente nos dois últimos anos é muita hipocrisia para quem quer falar das questões que afetam a sociedade e seu futuro. Aliás, parece combinado entre as editorias locais, disso ninguém fala.
A opção é abordar questões distantes, geográfica e politicamente, e de preferência distante quilômetros dos problemas ambientais que proliferam no nosso entorno. Colunistas dinamarqueses, questões planetárias anódinas e outras premissas de sala de aula são analisadas como em um centro cirúrgico esterilizado tal a sua aridez. Substituem desmatamentos, tráfico de animais, poluição, atropelos da legislação e desregramentos de toda a ordem que transitam sob nossos olhos e que merecem a atenção e conhecimento de toda a sociedade para que esta sucessão de impactos ambientais não prossiga nas próximas gerações.
A unanimidade só aparece nas páginas econômicas para criticar o “gargalo verde”, a burocracia e os empecilhos que impedem o progresso e a nossa entrada no restrito círculo dos países desenvolvidos, e quem sabe, de nos transformarmos em uma futura China.Há urgência em liberar todo o tipo de obras e empreendimentos, ignorando a necessidade cumprir a legislação e os regramentos exigidos a todos, sem distinção. Colunistas, jornalistas e empresários são unânimes no apelo e repetem o velho mantra: tem que destravar o licenciamento. Necessitamos de obras, geração de emprego, mesmo que isso signifique mais carvão, menos Áreas de Proteção Ambiental, mudanças drásticas no Código Florestal e menos controle da poluição.
A gritaria já grande quando os procedimentos seguem seu rito normal de aprovação. Imagine a hipótese de vetar projetos ou empreendimentos que não cumpram procedimentos ou a Legislação. Receber um não? Jamais. Entra e sai governo todos cedem à pressão da mídia e empreendedores vorazes. Não interessa o custo, precisamos de anunciantes.
(Por Ana Terra de Oliveira, EcoAgência, 23/03/2011)
Ana Terra de Oliveira é jornalista.