A comunidade do Maranhão abriu uma nova frente de roças e extração de recursos naturais, de 100 hectares. Cada família tem direito a trabalhar num lote. Partiu dos próprios moradores a ideia de fazer reflorestamento com mudas de andiroba e a aprovação da regra de não derrubar uma única árvore nativa de grande porte. A medida, tomada em assembleia, causou a revolta de madeireiros da região. Eles investem agora nas comunidades próximas de Icurupá e Momurá.
"Toda semana descem balsas carregadas de madeira. Teve serraria que propôs urbanizar toda a comunidade em troca de nossa floresta. Mas ninguém aqui abre mão, nem as famílias que têm barco, nem as famílias que vivem do trabalho na colônia", diz o líder comunitário Valdo Rodrigues de Oliveira. "A nossa floresta é para uso próprio. Só retira madeira para fazer casa, canoa, escola, Isso quando não dá para aproveitar madeira antiga."
Valdo reclama das pressões. "Tem momento em que a gente tem de ser firme para aguentar. No meu governo e depois como comunitário, vou apitar contra as serrarias", garante. "Aqui a gente tem maçaranduba, itaúba, louro, cedrinho, acupiúba, tudo madeira de lei. Há maçaranduba que cinco homens de mãos dadas não abraçam."
A maioria dos moradores do Maranhão vive da mandioca, de vendas de verduras na feira do fim de semana em Parintins, da coleta de açaís na floresta, dos doces e vinhos de ixi, xi coroa e ixi liso, frutas no formato de um ovo de galinha, de sabor adocicado. O cheiro da fruta é tão forte que atrai pacas, antas e tatus. O caçador faz gaiolas perto de árvores de ixi para capturar os bichos nos meses de abril e maio, época de colheita.
(O Estado de S.Paulo, 22/03/2011)