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energia nuclear no Japão passivos da energia atômica
2011-03-22 | Tatianaf

Naquele 6 de agosto de 1945, Teruko Ueno tinha 16 anos e estava no segundo ano do curso de Enfermagem na escola do Hospital da Cruz Vermelha de Hiroshima, situado a 1,5 quilômetro do ponto em que caiu a primeira bomba atômica da história. O acidente de Fukushima e as devastadoras imagens do terremoto do dia 11 de março passado voltaram a remover em seu interior o terror daqueles meses, e as lágrimas brotam ao falar de suas companheiras mortas.

Eis a entrevista.

O que estava fazendo naquela manhã?

Na escola havia sido declarada uma epidemia de disenteria e eu estava preparando o café da manhã para as doentes quando às 7h30 soou a sirene de bombardeio. Logo parou e fui ao jardim onde desinfetávamos os pratos, mas ouvi um avião se aproximar. Corri para o corredor e me enfiei debaixo de uma mesa. Saí quando os escombros pararam de cair.

Qual foi a primeira coisa que viu?

O céu tinha uma luz muito estranha e as casas próximas ao hospital estavam em chamas. Se ouviam gemidos e gritos pedindo socorro. Uma parte da nossa residência se incendiou e as estudantes tratávamos de apagar o fogo com baldes de água, mas não conseguimos. Minha amiga estava debaixo dos escombros. Quando a tiraram me pediu água e em seguida morreu. Das 24 que morávamos no hospital, 14 morreram.

O hospital foi destruído?

Não sei como o incêndio se apagou; só sei que tudo estava cheio de escombros quando pessoas começaram a chegar. Vinham com espantosas queimaduras e a pele se desprendendo do rosto, os braços e o corpo como se andassem com trapos. Ainda ouço o pranto de um bebê agarrado ao peito de sua mãe morta às portas do hospital, mas não sei o que aconteceu com ele.

Foi ao local da explosão?

Não. Havia incêndios por toda a cidade. As ruas que davam acesso ao hospital foram se enchendo de cadáveres. Muitos morriam antes de chegar, alguns ficaram com a cabeça dentro da cisterna de água na esquina. Todos tinham sede.

Recolhiam os cadáveres?

Não. Dois dias depois começaram a chegar equipes de resgate de outras cidades. Eles tiraram os escombros do hospital. Deixaram o piso limpo e ali deitaram os feridos mais graves. Felizmente, o depósito de remédios que estava a cinco quilômetros da cidade não pegou fogo e trouxeram unguentos e medicamentos para tratá-los.

O que fazia?

Atendia entre 20 e 30 feridos por dia. Tinham queimaduras horríveis, nas quais as moscas punham ovos e se enchiam de larvas. Extraíamos uma a uma as larvas das feridas e de cada ferido tirávamos mais de um prato cheio. Depois colocávamos unguento, mas cada vez havia mais moscas e mais larvas. De muitos, não sabíamos por que, saíam manchas roxas e morriam. Ninguém sabia que haviam jogado uma bomba atômica sobre nós e nunca antes havíamos ouvido falar de radioatividade.

Você não teve nenhuma ferida, nem ficou doente por causa da radioatividade?

Não. Quase todos perderam o cabelo, mas o meu não caiu. Tive vergonha por não ter nada e me enfaixei um braço.

Quanto tempo durou aquele inferno?

Mais ou menos um mês. Cada dia morriam sete ou oito pessoas e pela noite os queimávamos com os outros mortos do hospital. O céu se enchia de luzes azuladas do fósforo que os cadáveres que queimavam em cada bairro desprendiam. Quando conseguia que me dissessem seu nome – muitos não conseguiam falar porque causa de queimaduras na garganta – ou que o escrevessem, recolhia um osso e o deixava em uma bolsinha no altar budista do hospital para que os familiares pudessem recolhê-lo. Com a redução do número dos feridos, diminuíram as moscas. Nesse mês, não podíamos nem falar porque havia tantas moscas que entravam pela boca.

Tem filhos?

Sim, três; cinco netos e dois bisnetos. Mas na minha primeira gravidez, em 1953, passei um medo terrível. Me casei com outro hibakusha (sobrevivente) e quando deixei o hospital, em 1952, já sabíamos que tinham jogado uma bomba atômica sobre nós. Não fomos à Comissão de Feridos pela Bomba Atômica que os ocupantes criaram. Não quis que fizessem experiências comigo, já tínhamos sido cobaias de chega. As pessoas iam, mas eram tratadas. Só as examinavam, registravam seus dados e as mandavam embora.

O que sente agora?

Não gosto do fato de que o Japão tenha uma aliança com os Estados Unidos.

Incomoda-lhe o fato de que as tropas norte-americanas estejam na base vizinha de Iwakuni?

Me parece um insulto e uma falta de respeito com todos os hibakusha. Não suporto pensar que, caso ampliarem a sua presença nessa base, possam atracar tão perto um submarino nuclear, enquanto ainda se desconhece a influência da radiação nas segunda e terceira gerações. Muitos amigos e companheiros do hospital tiveram diferentes tipos de câncer.

Preocupa-lhe o acidente de Fukushima?

Sim, muito. Tenho família morando em Tóquio e gostaria que viessem para cá para não se expor à radioatividade, mas entendo que não podem deixar seu trabalho. Nestes dias, ao ver na televisão os mortos do terremoto me veio à memória que em Hiroshima não foi possível identificar a maioria das vítimas, porque estavam carbonizadas. Agora morreram afogadas pelo tsunami; naquela época, abrasadas pelo fogo.

Qual é a sua opinião sobre a central nuclear que querem construir em Kaminoseki?

Sou totalmente contra e assinei cartas de protesto contra essa planta. Me alegro que agora tenham interrompido as obras. Está a cerca de 80 quilômetros daqui e se houver um acidente como o de Fukushima, Hiroshima voltará a sofrer a radioatividade. Sou contra a energia nuclear. Se todos os esforços militares tivessem sido empregados na pesquisa de energias alternativas, o Japão não teria agora este problema.

O Governo pediu aos japoneses que poupem eletricidade. Estaria disposta a reduzir seu consumo para prescindir da energia nuclear?

Evidentemente. Não precisamos gastar tanto. Eu viveria sem problema três horas por dia sem eletricidade em troca da erradicação de todo o nuclear.

(Por Georgina Higueras, El País, tradução é do Cepat, IHu-Unisinos, 22/03/2011)


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