Apenas quatro dos 17 reatores do país estão em funcionamento. E 75% da capacidade nuclear será desligada. O governo diz que é uma mudança sem volta.
A síndrome de Fukushima torna-se tema central das escolhas do futuro no coração da Europa: a Alemanha conservadora de Angela Merkel está decidida a acelerar o adeus à energia nuclear. Quem o disse foi o ministro do Meio Ambiente, Norbert Roettgen, ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, destacando que os "riscos residuais do átomo" são muitos.
E, de acordo com antecipações do jornal pró-governo Die Welt, em maio, mesmo que para revisões, verificações e controles provisórios, será criada uma situação em que, dos 17 reatores nucleares alemães, só quatro estarão em serviço. O que significará que, temporariamente, como em uma simulação de emergência decidida para se habituar ao futuro, a maior e mais competitiva economia da União Europeia e quarta economia mundial irá desligar 75% da sua capacidade nuclear.
"Podemos dizer adeus ao átomo mais velozmente do que estava previsto até agora. A situação depois do drama japonês é uma ruptura, uma reviravolta sem retorno", afirma Roettgen. A grande prova do adeus ao átomo, no país-locomotiva da economia da União Europeia, chegará em dois meses. Como uma amostra de fato consumado, ao qual indústria e consumidores deverão começar a se adequar.
Funcionará assim: de um lado, com base na moratória decidida pelo governo na onda da catástrofe nipônica, serão desligados, por pelo menos três meses, para controles, os sete reatores mais velhos, isto é, Biblis A, Biblis B, Neckarwestheim 1, Brunsbuettelm Isar 1, Unterweser, Philippsburg 1. Um oitavo reator – Kruemmel –, o mais contestado pelos ambientalistas como perigoso, já foi desligado por segurança. Durante a moratória, escreve o Die Welt, os produtores de energia elétrica alemães decidiram desligar outros reatores, temporariamente em maio, para controles: Philippsburg 2, Emsland, Gundremmingen B, Grafenrheinfeld, Gronde. Na metade de maio, portanto, a primeira economia europeia se encontrará, por pouco tempo, com apenas quatro reatores em funcionamento: Brokdorf, Neckarwestheim 2, Isar 2 e Gundremmingen C. Três quartos da capacidade de produção de energia do átomo (isto é, 15 mil Megawatts de um total de cerca de 20.500), portanto, faltarão.
Situação provisória, mas, nesse breve porém significativo intervalo, economia e vida cotidiana terão que se adaptar: prova de vida quase sem átomo, preanunciada para não incorrer em blecautes e experimentar o futuro. É fácil ler nas entrelinhas a estratégia do governo: fatos realizados um passo depois do outro, para impôr aos poderes econômicos a reconversão acelerada, e aos consumidores, aumentos das tarifas, em nome da prioridade da segurança. Fechamento, se possível antecipadamente, com relação ao marco legislativo do desligamento do último reator em 2035.
Pode-se desligar tudo em 2026 e, em 2050, chegar a 80% das necessidades com as renováveis, pensa o governo. Diz o ministro do Meio Ambiente: "Devemos verificar a segurança das centrais. Se se tornassem inseguras, deveriam ser desligadas logo. Mas é um fato claro: o julgamento da sociedade, das pessoas sobre o que é um reator atômico seguro mudou depois da catástrofe no Japão. Segurança e risco são valores sociais que podem mudar, e a política deve reagir".
Para um partido conservador pró-átomo até ontem, é uma reviravolta revolucionária. A energia atômica, adverte Roettgen, "não é completamente governável. Cada ano a mais de uso é um ano de risco a mais. A ruptura está no fato de que, no Japão, aconteceu o inimaginável". A Der Spiegel divulga um relatório secreto que causa medo nas centrais nucleares alemãs. "O mapa do horror" é o título da revista de Hamburgo. Do dossiê, resulta que todas as instalações da República Federal têm problemas: falhas, rachaduras, instalações de resfriamento ou circuitos eletrônicos cheios de defeitos, em alguns casos locações em zonas sísmicas ou em risco de inundação, alta vulnerabilidade a atentados. Até na Europa central, enfim, Fukushima não é impossível.
(Por Andrea Tarquini, La Repubblica, tradução de Moisés Sbardelotto, IHU-Unisinos, 22/03/2011)