Há um novo problema em Fukushima. No reator 3 da central nuclear fortemente danificada pelo terremoto, um imprevisto aumento da pressão obrigou, neste domingo, o "Fukushima 50", o grupo de técnicos em luta contra o tempo, a levar seriamente em consideração a hipótese de "liberar" material radioativo na atmosfera.
Depois do alerta lançado de madrugada, a pressão diminuiu e a ação foi temporariamente suspensa. A Tepco, sociedade que administra a central nuclear, confirmou a notícia, especificando que se trata de uma hipótese extrema, mas, ao mesmo tempo, não subavaliando-a: "O problema da pressão continua em alto risco". A operação para levar novamente a eletricidade a todos os seis reatores, de modo a religar as bombas de resfriamento, continua com sucesso, embora um pouco mais lentamente do que o previsto, e, para os reatores 3 e 4, serão necessários vários dias.
Dentro do reator 3, o mais perigoso porque contém plutônio altamente tóxico, a temperatura na madrugada deste domingo havia atingido os 300 graus centígrados, mas depois se estabilizou em torno desse número, graças aos poderosos jatos d'água marina que são bombeados 24 horas por dia em seu interior.
Se a pressão aumentar novamente, todos os passos à frente dados nas últimas 48 horas terão sido em vão. A tática de "liberar" material radioativo já havia sido usada nos primeiros dias da crise com escasso sucesso, tanto que, após essa ação, haviam sido verificadas diversas explosões no interior da central. Se os técnicos fossem obrigados a usá-la novamente, desta vez a emissão de material radioativo seria decisivamente superior, porque, enquanto isso, uma maior quantidade de combustível nuclear se "degradou". Substancialmente, dizem os cientistas que estão monitorando a operação, se formaria uma densa nuvem radioativa composta por iodo, krypton e xênon.
Esse é o pior cenário que a Tepco quis evocar para responder às ferozes críticas sobre como administrou a situação nos dias imediatamente posteriores ao terremoto e sobre o otimismo muitas vezes facilmente demonstrado. Uma mudança na estratégia de "comunicação", depois que foram provadas algumas fortes responsabilidades da Tepco. Como aquela, divulgada apenas agora, que, dez dias antes do terremoto, havia admitido não ter feito as inspeções devidas em 33 partes da central ou que o painel de controle da temperatura no interior dos reatores não havia sido "revisto" nos últimos 11 anos. Estratégia de comunicação que obrigou o presidente da Tepco, neste domingo, a fazer uma reparação pública e a pedir desculpas "por ter causado uma preocupação tão grande ao povo japonês".
O governo japonês, acusado de um atraso culpado, anunciou, enquanto isso, que a central de Fukushima será fechada definitivamente e será completamente demolida assim que o desastre nuclear – o pior registrado desde o de Chernobyl em 1986 – esteja inteiramente sob controle. Diante dos protestos e do número de vítimas que continua aumentando (8.450 mortos confirmados, 12.931 desaparecidos, enquanto, apenas na prefeitura de Miyagi, a polícia local estimou 15 mil vítimas), o primeiro-ministro Naoto Kan decidiu se dirigir, na manhã desta segunda-feira, para a área de Fukushima. Um representante do governo admitiu que as autoridades se encontraram despreparadas e fez um mea culpa diante dos desalojados de Fukushima por não ter distribuído prontamente as pílulas de iodo: "Deveríamos ter decidido e agido muito antes. A verdade é que não havíamos previsto um desastre dessas proporções".
(Por Alberto Flores d'Arcais, La Repubblica, tradução é de Moisés Sbardelotto, IHU-Unisinos, 22/03/2011)