Apesar dos atuais problemas ocorridos no Japão, relacionados à matriz energética nuclear, os governos do Chile e dos Estados Unidos firmaram, nesta sexta-feira (18), o "Memorando de entendimento e cooperação relativo à utilização de energia nuclear com fins pacíficos”. A iniciativa, protagonizada por Alfredo Moreno, Ministro de Relações Exteriores do Chile, e por Alejandro Wolff, embaixador dos EUA no país, já despertou o descontentamento dos movimentos e organizações sociais chilenos.
Em campanha contra o acordo nuclear, a agência de notícias Mapuexpress.net desenvolveu uma carta, voltada para o presidente chileno Sebastián Piñera, em que rechaça a iniciativa e questiona se no acordo com os EUA está incluso o uso do deserto do Atacama para depositar lixo atômico.
A carta cita os cerca de sete mil mortos e mais de 10 mil desaparecidos nas recentes tragédias no Japão, as consequências da radioatividade provocada pelo Yodo -131, Cesio-137, Estroncio-90 e o Plutonio-239, que contamina a natureza e o ser humano por mais de 24 mil anos, além de relembrar a catástrofe nuclear de Chernobyl, ocorrida em 26 de abril de 1986.
"25 anos depois não foi possível esclarecer se foi por falha técnica, humana ou as duas razões. A radioatividade superou (dependendo das chuvas regionais) de 100 a 400 vezes a bomba atômica de Hiroshima. O vento levou a nuvem atômica e contaminou Escandinávia, Polônia, Checoslováquia, Áustria, Alemanha, e finalmente, o hemisfério norte até 2006, sem enumerar as milhares de vítimas humanas. Mais de 60 povos e cidades de Bielorrússia, Ucrânia e Rússia foram abandonados, destruídos e enterrados”, alerta o documento de Mapuexpress.
Mediante essas e outras tragédias que ainda causam problemas para populações do mundo todo, e levando em consideração as características geográficas do Chile, questionam ao mandatário como é possível a assinatura deste acordo.
"Presidente Piñera, em vista destes e muitos outros antecedentes, e no momento preciso da maior catástrofe nuclear do mundo: como é possível que o atual governo chileno planeje e firme acordos de energia nuclear com França e Estados Unidos (talvez também com outros governos) em território chileno de violentos terremotos e tsunamis, grau 8,8 em 2010, grau 9,5 em 1960, o maior terremoto do mundo?”
Além dos questionamentos, Piñera também é alertado: caso ainda deseje ter o respeito do povo chileno e da comunidade internacional o acordo deve ser desfeito. Os que queiram apoiar a carta podem enviar adesões para: galo_45@hotmail.com.
Em comunicado, o Movimento dos Povos e dos Trabalhadores (MPT) do Chile também se pronunciou contrariamente ao acordo nuclear, deixando claro que a iniciativa tornará o país mais dependente política e economicamente "do Império”, que é hoje um dos maiores investidores no Chile.
Para reforçar esta postura de repúdio ao acordo e também à presença do presidente estadunidense Barack Obama no Chile, o MPT chama chilenos e chilenas às ruas de Santiago, na próxima segunda-feira (21), às 19h, na Ahumada com Alameda para pedir "Fora do Chile o governante do Império do Terror”.
(Por Natasha Pitts, Adital, 21/03/2011)