Fortunati diz que entre os desafios estão a qualificação dos serviços e a melhoria da saúde públicaO metrô é o sonho do futuro do prefeito de Porto Alegre José Fortunati. Na semana dos 239 anos da Capital dos gaúchos, Fortunati reforça que aposta toda a sua articulação política e estudos técnicos para assegurar a obra orçada entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,4 bilhões. A palavra deve ser dada pelo Ministério das Cidades em junho, mas em abril a prefeitura habilita o projeto. Há um ano no posto, Fortunati reforça que não tem plano B caso a linha 1 do metrô porto-alegrense não seja eleita entre as escolhidas pelo PAC da Mobilidade. O prefeito também insere outro desafio na qualificação dos serviços: melhorar a saúde pública.
JC Empresas & Negócios – Há alguma cidade que inspira o senhor quando se trata de pensar o futuro de Porto Alegre?
José Fortunati - Não existe cidade no mundo que seja referência para a Capital gaúcha que imagino. Há pedaços de uma, aspectos de outra. Porto Alegre é atípica, somos uma capital de porte médio, com crescimento demográfico pequeno, que é muito bom, pois é garantia de que não perderemos o controle do crescimento. Somos a capital da democracia do mundo, da gestão ambiental fantástica. Temos os nossos problemas. Tenho algumas referências – para o Cais do Porto é Barcelona, e para a mobilidade, o sistema de Bogotá, na Colômbia.
Empresas & Negócios – Quais são os problemas que precisam ser resolvidos?
Fortunati - Saúde pública, pois mexe com as pessoas de menor poder aquisitivo. É o grande nó.
Empresas & Negócios – Mas o nosso sistema não é falho?
Fortunati - O grande problema é que somos cortados pelo Lago Guaíba, formando uma meia lua com raio de 180 graus. O Centro é o bairro que oferece melhores condições e oportunidades; transitam ali 400 mil pessoas. Precisamos criar alternativas, como os BRTs (sigla para Bus Rapid Transit, em português corredores rápidos para ônibus), que implantaremos nas avenidas Protásio Alves, Sertório, Assis Brasil, Bento Gonçalves, Tronco e Padre Cacique para evitar que as viagens desnecessárias ao Centro sejam atendidas. O Transmilênio, de Bogotá, é a referência, incorporando a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e bairros distantes. O metrô surge para atender a demanda da área que conecta Gravataí, Alvorada e Cachoeirinha, Canoas e Vale do Sinos com a ponte de Guaíba. A população duplica só com este fluxo.
Empresas & Negócios – E o metrô sai? Quando?
Fortunati – Estou convencido de que sim. Tentamos negociar para a Copa do Mundo, mas tecnicamente ficou claro que era impossível. Ele saiu das projeções para o Mundial, mas ficou compromisso do governo federal para fazer depois da Copa. Voltamos a negociar em 2010, quando formatamos a linha norte, definimos a modelagem financeira e chegamos a uma fórmula, mas faltavam os recursos. Por que o projeto ganha força agora? A presidente Dilma Rousseff anunciou R$ 18 bilhões para o PAC da Mobilidade (R$ 12 bilhões da Caixa Econômica Federal e R$ 6 bilhões como fundo perdido – verbas da União). A Capital se encaixa em todos os critérios (projeto estruturante, conexão com a RMPA, relação com o Sul do Estado e com o transporte coletivo). Tenho confiança de que disputamos as verbas de forma séria.
Empresas & Negócios – Serão recursos só da União?
Fortunati – O governo federal só alocará para a construção. O nosso orçamento aponta valor entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,4 bilhões. A gestão deve ser da prefeitura e com administração de uma empresa privada por 30 anos, a mesma que fizer a obra. Outras duas condições: que o Estado conceda isenção de tributos (ICMS) para compra de trens e para a obra (estimada em R$ 200 milhões) e que o município isente o ISSQN e aporte recursos por 15 anos para dar liquidez ao processo de implantação do transporte. Contratamos a Fipe para fazer a modelagem financeira do metrô. Nosso projeto segue o de Curitiba, e Belo Horizonte tem um modelo um pouco diferente. Somos nós e as duas capitais que atendem as exigências da presidente. Não tem verba para seis metrôs. Ou temos recursos para tocar do início ao fim ou a obra não sai.
Empresas & Negócios – Como ser um dos eleitos?
Fortunati – O governo tem de fazer sua opção. Já começamos discussão com Belo Horizonte e Curitiba, estamos mais avançados e unimos esforços.
Empresas & Negócios – A liquidez de 15 anos exigirá caixa –há esta verba?
Fortunati – O governo federal aporta maior volume de recursos. A empresa privada entrará com o resto. Esta parte será definida até 3 de abril no cadastramento da nossa proposta, incluindo quanto teremos de ter de caixa. Cinco anos após, com a obra pronta, a prefeitura começa a abater parcelas do investimento privado.
Empresas & Negócios – E se não sair o metrô, qual é a solução para a mobilidade?
Fortunati – Teremos de apostar nos BRTs, mas eles não atendem toda a demanda. O metrô se torna imprescindível. Com o crescimento assustador da frota de veículos, este transporte dará melhores condições de mobilidade.
Empresas & Negócios – Então, o senhor não cogita não ter metrô? Há um plano B?
Fortunati - Nem penso nisso. Não tem plano B. Estamos trabalhando com todas as forças na interlocução com os governos e fazendo todos os esforços políticos. Neste momento, não cogito. Só penso nisso depois de 12 de junho.
Empresas & Negócios – Garantido o metrô, que levará até cinco anos para ficar pronto, como fica o trânsito até lá?
Fortunati – Acredito que os BRTs serão um grande atrativo para a classe média. Quando o veículo se aproxima do cruzamento, a sinaleira começa a mudar para dar mais fluência. Na avenida Assis Brasil, com BRT se elevará para 30 km/h. Serão ônibus com ar-condicionado com muito conforto. Em dois anos estarão operando.
Empresas & Negócios – O que será feito na saúde? Há demanda para a Copa do Mundo?
Fortunati – De cada dez atendimentos pelo SUS, 5,5 são pessoas de fora. Estamos falando com os governos estadual e federal para adoção de medidas para fortalecer a saúde no Interior, com hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Sem isso, não resolve o problema da Capital. Aqui teremos quatro UPAs (duas começam a construção este ano), há maior regulação de leitos e informatização de toda a rede (termina no final de 2011). Reabriremos o Hospital Independência, o Clínicas reabrirá logo o Luterano, haverá o Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), área que teremos 170 equipes até dezembro, e começa a construção do hospital da Restinga. Haverá um salto de qualidade no atendimento.
Empresas & Negócios – Porto Alegre está se credenciando a ser excelência em serviços?
Fortunati – Não ficamos atrás de nenhuma capital brasileira na área. Mas muitos reclamam que há sujeira. Montamos grupo de trabalho, chefiado pela Ana Pellini, e anunciaremos nos próximos dias novas medidas. Multaremos pesadamente quem desrespeitar as leis. Será uma ação impactante.
Empresas & Negócios – As obras para a Copa estão em dia?
Fortunati – Estamos nos reunindo com órgãos como a Caixa, e secretários. Há atraso no levantamento socioeconômico para remoção de famílias da avenida Tronco, que agora se resolveu. A obra é a mais complexa do pacote para o Mundial. Mas ela ficará pronta para a Copa das Confederações de 2013, como a reforma do Beira-Rio. Tudo depende das licitações nos demais projetos. Não há atraso nas liberações de recursos.
Empresas & Negócios – A revitalização do Cais do Porto está ameçada?
Fortunati – Está tudo acordado com o governo estadual. Pedimos ao Ministério dos Transportes para desafetar a área como porto. Dependemos disso para que o empreendimento comece. Mas tudo que vem de Brasília é grande incógnita.
(Por Patrícia Comunello, JC-RS, 21/03/2011)