Uma cidade é lembrada pela sensação de acolhida ou de hostilidade que nos causa. Um ambiente bem cuidado faz toda a diferença. Tal como uma pessoa, importa tanto o cuidado no vestir quanto com a higiene. Como considerar a beleza de alguém quando sua proximidade acusa falta de banho, roupas desleixadas, mau hálito? A cidade se veste com paradas de ônibus, bancos, espaços públicos de lazer, calçadas limpas e sem armadilhas a pés incautos.
A cidade que trata bem aqueles que nela estão, tem seus caminhos e espaços indicados convenientemente, permitindo fluir de forma organizada. Não é possível apreciar quando a preocupação está toda voltada a se localizar num emaranhado de ruas sem nome, quando caminhar é arte de desviar de buracos e sujeira, esperar um ônibus é provação no sol ou na chuva.
Há tempos Porto Alegre abandonou qualquer política em relação ao mobiliário urbano. Há alguns anos houve tentativa de qualificar o espaço público através de licitação, tendo sido previsto um conjunto de paradas de ônibus padrão, inclusive com um pequeno banco e espaço para publicidade, como contrapartida ao empreendedor. Podia não ser o modelo mais bonito, mas tinha a grande vantagem de manter a parada iluminada à noite, justamente devido ao espaço publicitário com luz. Havia sombra em dias de sol, abrigo para a chuva e vento.
Atualmente as paradas foram abandonadas. Quando cobrado sobre o assunto, o Poder Público se omite, deixando sem resposta aqueles que sofrem diariamente, esperando, em pé, por ônibus que não costumam cumprir seus horários. Também as calçadas estão ao "Deus dará", com a alegação de que sua manutenção é de responsabilidade do proprietário do imóvel, o governo municipal se omite de fiscalizar.
É inconcebível que uma cidade com o encanto do Guaíba, a beleza de seus morros, de seu Centro Histórico, tenha que conviver com sacos de lixo espalhados, catadores disputando resíduos, cachorros famintos e o mau cheiro que obriga o cidadão a tapar o nariz. Há equipamentos modernos para a conteinerização do lixo, esteticamente adequados, funcionais. Basta vontade e organização para implantá-los.
Defendo a ideia de que é possível à municipalidade realizar licitações públicas, dividindo a cidade em três, quatro ou cinco regiões, de forma que empresas possam disputar a colocação das mais diversas peças do mobiliário urbano nos espaços públicos, como brinquedos e praças de esportes nas praças, manutenção de espaços de lazer e preservação de espaços públicos, mediante a contrapartida da publicidade.
Para que isso ocorra, cabe ao prefeito o papel de maestro na orquestração das mudanças necessárias.
* vereador e presidente do PT-POA
(Especial para o Ambiente JÁ, 18/03/2011)