A Dow AgroSciences, uma unidade da Dow Chemical, lançará em 2012 uma semente de milho transgênico no Brasil que combina cinco genes de forma inédita no país, disse nesta quarta-feira o vice-presidente da unidade global de negócios de safras da companhia, Tim Hassinger.
Em entrevista à Reuters, ele afirmou que o milho "Powercore", da chamada família "Smart Stack", recebeu aprovação de órgãos reguladores e oferecerá ao cultivo maior resistência a insetos e tolerância a herbicidas.
"Estamos bem animados sobre isso, é um marco significativo para Dow AgroSciences", afirmou ele.
Para Hassinger, o lançamento do produto no Brasil, uma potência agrícola em expansão, é importante para o plano de crescimento global da Dow.
"O Brasil é um alvo onde queremos crescer", disse ele, referindo-se ao produto, parte de um acordo de licenciamento cruzado com a rival Monsanto.
Inicialmente, o produto será lançado no Brasil, de onde a empresa recebeu a aprovação dos órgãos reguladores recentemente, disse o executivo.
Mas ele tenta ainda o aval de governos como o da Argentina, para expandir as vendas desse produto.
"Os cinco genes darão aos produtores um controle de insetos que eles não tinham antes", destacou.
O Brasil tem elevado consideravelmente a sua produtividade, especialmente após o advento dos produtos transgênicos. O país é um dos maiores produtores de milho do mundo -embora consuma a maior parte internamente- e tem figurado entre os três maiores exportadores, atrás de Estados Unidos e Argentina.
Enquanto os Estados Unidos permanecem sendo os maiores em plantio de transgênicos, o Brasil tem apresentado o maior crescimento, de acordo com a organização internacional para aquisição de biotecnologia, que promove a adoção de transgênicos.
A nova semente da Dow terá três genes que promovem resistência a insetos que atacam o milho, como a lagarta. E terá também dois genes adicionais que oferecem tolerância a herbicidas, incluindo o Roundup, da Monsanto.
A empresa aposta no "Powercore" para crescer ainda mais sua participação no mercado de milho no Brasil, que aumentou em 2010 para entre 13 e 15 por cento, segundo o executivo. Nos Estados Unidos, onde a Dow tem um "stack" de milho com oito genes, a companhia tem participação de até 5 por cento no mercado de semente do cereal.
Ele evitou comentar quanto produtores poderão plantar o "Powercore" no primeiro ano de uso.
"Ainda estamos trabalhando sobre como rapidamente poderemos começar a produção, então não posso dizer isso neste momento."
A Dow já atua no mercado brasileiro com o milho Herculex, aprovado em 2008, uma parceria com a DuPont - o produto é tolerante a herbicidas e a insetos, mas com somente dois genes.
A empresa não divulgou os investimentos específicos na nova tecnologia, mas disse que são "significativos".
CANA TRANSGÊNICA DISTANTE
A Dow desenvolve em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) pesquisas para a obtenção de uma cana transgênica resistente a insetos, que provavelmente será a primeira biotecnologia para a cultura a chegar ao mercado -o CTC também desenvolve em parceria com outras multinacionais outras "canas" geneticamente alteradas, resistentes a seca e com maior teor de sacarose.
Mas o fato de a resistência a insetos já ser algo amplamente utilizado em outras culturas deverá permitir que o produto chegue antes de outros transgênicos, indicou o CTC no ano passado.
"O projeto está em fase de desenvolvimento, é difícil saber... Ainda é cedo para dizer, é assim que eu descrevo", disse Hassinger, após ser questionado sobre os prazos para o lançamento da cana transgênica.
Anteriormente, o CTC afirmou que poderia pedir a liberação do cultivo comercial da cana transgênica até 2014.
(Por Ernest Scheyder e Roberto Samora, Reuters, O Globo, 17/03/2011)